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Gomes Cravinho na Defesa: as tarefas inadiáveis de um diplomata bem recebido

Gomes Cravinho na Defesa: as tarefas inadiáveis de um diplomata bem recebido

É considerado um homem de diálogo, mas tem um dificil caderno de encargos. Para já, Tancos e os alugueres, pelos militares, de casas do Estado. Depois, decidir o modelo de Forças Armadas num país com perda de efectivos.

Quando entrar como ministro da Defesa Nacional já empossado no edifício da Avenida Ilha da Madeira, o embaixador João Gomes Cravinho tem uma agenda de tarefas inadiáveis na mesa. Não as escolheu, herdou-as do antecessor. Da sua resolução depende que os portugueses voltem a encarar as Forças Armadas com a dignidade que estas reivindicam.

As averiguações ao que sucedeu em Tancos têm de ser acompanhadas por políticas de clarificação do Ministério da Defesa. Gomes Cravinho, 54 anos, filho do antigo ministro do PS João Cravinho, tem o peso político de que carecia Azeredo Lopes. Sobre ele não recaem dúvidas de chefes de gabinete. À legitimidade da posse soma a frescura do olhar.

Se os tempos da Justiça não são os da política, o apuramento dos factos de Tancos não podem impedir acção. A demissão do ministro Azeredo Lopes abre a porta à demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte. Uma vez retirada a responsabilidade política seria perverso manter o responsável do Exército até terminar normalmente o seu mandato. O mesmo se aplica a todos os oficiais que aparecem ou venham a aparecer no rol de indiciados do Ministério Público.

Num segundo tempo, o futuro da Polícia Judiciária Militar deve ser equacionado. A Operação Húbris escancarou comportamentos impensáveis num regime democrático e revelou um interesse nacional à margem do Estado e dos agentes políticos que o definem.

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Já é urgente que os esclarecimentos pedidos pelo Ministério ao general Rui Matias, presidente do conselho directivo do Instituto da Acção Social das Forças Armadas (IASFA), cujo prazo expirou no mesmo dia em que o ministro se demitiu, sejam divulgados. Não serem entregues ou ficarem a repousar numa gaveta, à espera do resultado das inspecções pedidas à Defesa e às Finanças, seria perpetuar a suspeita.

Conhecer o património imobiliário do IASFA e saber se há abusos nos alugueres é uma urgência que se exige às Forças Armadas. Sem transparência é impossível a sua dignificação. �� a realidade das últimas semanas que a tal obriga.

A indicação de João Gomes Cravinho pôs um parêntesis na crispação entre os militares e a sua tutela política. “É um homem decente, especialista em assuntos internacionais, espero que ouça as pessoas que sabem da situação das Forças Armadas”, precisa, ao PÚBLICO, um oficial na reserva que solicita anonimato.

O novo ministro não é desconhecido das cúpulas castrenses. Como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação com Luís Amado à frente da diplomacia nos XVII e XVIII governos de Sócrates, manteve contactos com os militares.

A publicação de artigos em revistas sobre defesa, cooperação e relações internacionais tornaram-no conhecido das chefias militares. Em 2002, presidiu ao Instituto de Cooperação Portuguesa, publicou o livro Visões do Mundo, foi professor de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, professor convidado no ISCTE e da Faculdade de Direito na Universidade Nova de Lisboa. O seu estilo, garantem ao PÚBLICO os oficiais que privaram com o então diplomata e professor, será dialogante.

A AOFA [Associação Oficiais das Forças Armadas] solicita esta segunda-feira uma audiência ao ministro. “Esperamos que tenha a capacidade de diálogo que não tiveram os antecessores Azeredo Lopes e Aguiar Branco”, refere o coronel António Matos. Segue pedido idêntico da Associação Nacional de Sargentos (ANS). “Reconhecemos o seu peso político e esperemos que veja as associações dos militares como representativas”, aguarda Mário Ramos, da ANS.

“É necessário mudar de política, sei que não é possível no imediato, mas pelo menos que o novo ministro dê sinais em breve”, espera o almirante Melo Gomes, ex-chefe do Estado-Maior da Armada e presidente do think tank Grupo de Reflexão Estratégica Independente. O Orçamento de 2019 que o ministro recebe, reserva para a Defesa, segundo o primeiro-ministro António Costa, a maior fatia da legislatura.

Noutro tempo, Gomes Cravinho tem de partir do resultado dos novos incentivos e regulamento de contrato especial, aprovados há semanas, para entrar em terreno pantanoso: efectivos em queda e regresso, ou não, do serviço militar obrigatório. Um debate que não será até ao fim da presente legislatura, torneando o incómodo que suscita na JS, mas fundamental para a definição do modelo de Forças Armadas.

O PÚBLICO sabe que a próxima Lei de Programação Militar contém mais cinco mil milhões de euros do que a anterior, mas falta saber se tal reforço contempla encomendas com ou sem manutenção – o que não é de somenos face a experiências anteriores.

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