expresso.sapo.pt - 19 set. 13:31
Fotógrafo francês na origem do escândalo na Academia Sueca julgado por violação
Fotógrafo francês na origem do escândalo na Academia Sueca julgado por violação
O fotógrafo Jean-Claude Arnault, casado com a académica e poeta Katarina Frostenson, é acusado de dois episódios de violação cometidos em 2011, contra a mesma mulher
Um tribunal de Estocolmo começou esta quarta-feira a julgar, por violação, o artista francês Jean-Claude Arnault, protagonista de escândalos sexuais e fugas de informação confidencial, que ensombraram a academia sueca e o Nobel da Literatura 2018.
, que assegura ter sido obrigada a praticar sexo oral e a ter relações sexuais contra vontade, numa ocasião, e de ter sido violada enquanto dormia, dois meses depois.
O acusado negou em tribunal todas as acusações através do seu advogado, no início do julgamento, que decorrerá à porta fechada, a pedido da denunciante e como é costume na Suécia em casos de violação.
No julgamento, que será realizado em três audiências e terminará na próxima semana, vão testemunhar sete pessoas a quem a mulher relatou os factos, entre as quais um psiquiatra, embora não existam provas técnicas das acusações.
O Ministério Público encerrou em março partes da investigação preliminar, iniciada em novembro a partir de queixas de várias mulheres, quase todas de forma anónima, depois de 17 dos 18 casos terem sido arquivados por falta de provas, e por ter passado muito tempo desde que o alegado crime aconteceu.
Ao rebentar o escândalo, a Academia Sueca cortou relações com o artista e pediu uma auditoria, que concluiu que Arnault não influenciou decisões sobre prémios e bolsas.
Contudo, descobriu-se que Katarina Frostenson era coproprietária do clube literário do marido, que recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, o que violava as regras de imparcialidade.
O relatório confirmou também que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi violada várias vezes.
O "caso Arnault" desencadeou um conflito interno que, nos últimos meses, levou à demissão de oito académicos, embora apenas quatro o tenham confirmado por escrito.
Pressionados pela Fundação Nobel, a Academia Sueca lançou várias reformas, incluindo uma mudança nos estatutos para permitir a renúncia real dos seus membros e a eleição de novos, e o recurso a um grupo externo de especialistas em leis, resolução de conflitos, organização e comunicação.
A decisão mais controversa foi a de adiar a atribuição do Prémio Nobel de Literatura, pela primeira vez em sete décadas, o que significa que, em 2019, deverão ser concedidos dois prémios, uma medida atribuída à falta de confiança e ao enfraquecimento da instituição.