www.publico.ptpublico.pt - 19 set. 18:13

Artes. Lisboa mudou, mas ainda é de todos

Artes. Lisboa mudou, mas ainda é de todos

O Festival TODOS - Caminhada de Culturas celebra dez anos na promoção da interculturalidade em Lisboa descobrindo rostos e espaços invisíveis na cidade.

Quando o italiano Giacomo Scalisi chegou a Lisboa, há 20 anos, ficou fascinado. “Havia uma particularidade que não se encontrava em nenhum lugar”, conta o programador artístico e cultural ao PÚBLICO. “Fiquei tocado por aquilo que vi.” Tanto, que decidiu ficar. Hoje, essa singularidade pode estar ameaçada pela pressão turística, confessa. O bairro do Intendente, berço do festival Todos em 2009 — do qual Giacomo Scalisi é organizador e programador — é um espelho disso mesmo. “Somos a vanguarda, chegamos a um território e iluminamos esse território de diversas maneiras”, explica Giacomo.

Em 2009, o Intendente era um dos eixos da prostituição, toxicodependência e violência na cidade. O bairro sofreu profundas alterações nos últimos dez anos, com o festival a ser um dos instigadores dessa mudança: revelou espaços, rostos, culturas até então invisíveis. Abriu o bairro a gente nova, valorizou quem lá residia, trouxe o bairro para dentro da cidade. “Mas houve um erro estratégico no Intendente”, explica Giacomo. “Não nosso. O erro foi não dar condições às pessoas que lá viviam para lá continuarem a viver. Transformar aquele espaço em algo igual ao resto de Lisboa. Normalizar a cidade”, afirma. E se Giacomo tivesse chegado hoje a Lisboa, e não há 20 anos? “A minha impressão podia ser muito diferente. Ou não. Muitos turistas acham Lisboa magnífica, porque a cidade é magnífica, e não têm memória daquilo que era antes”, explica. Este ano, depois de passar pelo Intendente, São Bento e Colina de Santana, o Festival instala-se no Campo de Santa Clara, na freguesia de São Vicente. 

Dez anos de festival são também por isso dez anos de memória de uma cidade em transformação. Memórias condensadas agora no fotolivro Todos , que reúne trabalhos de Camilla Watson, Carlos Morganho, Céu Guarda, Cláudia Damas, Duarte Belo, Luís Pavão, Luísa Ferreira, Maurizio Agostinetto, Paolo Longo, Rosa Reis, Estúdio Silverbox, entre outros. Parte desse espólio estará também na exposição São Vicente de fora por dentro, com fotografias realizadas por João Tuna, Luísa Ferreira e Luís Pavão.

Foi no espaço da exposição, nas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento no Campo de Santa Clara, que conversámos com Giacomo Scalisi. Um espaço militar, por norma vedado — e que se encontra em grande parte desactivado depois de ter sido palco de grande produção durante a I Guerra Mundial. Durante a visita, paramos numa fotografia, parte de um trabalho de João Tuna que reúne fotografias de alunos da Escola Básica de Santa Clara (onde há 20 nacionalidades diferentes) e das suas famílias: “Esta família foi, por exemplo, desalojada há uma semana”, conta Giacomo. “As fotografias do festival acabam por guardar a memória do que foi. Mostramos aquilo que as pessoas não conseguem ver, ou a que não estão atentas”, explica Giacomo. “É a ideia de mostrar o invisível às pessoas. E encontrar a identidade de uma cidade.”

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