ionline.sapo.ptCarlos Zorrinho - 19 set. 11:16

Amar pelos dois

Amar pelos dois

O mandato de Jean-Claude Juncker teve momentos muito infelizes, mas não foi por ele que a União Europeia não conseguiu ser mais expedita na resposta às questões-chave que preocupam os seus cidadãos

Jean-Claude Juncker é o atual presidente da Comissão Europeia porque foi o candidato apresentado pelo Partido Popular Europeu, força política a que tem de ser atribuída a maior responsabilidade da resposta pífia e desproporcionada da União Europeia aos desafios colocados pela crise financeira de 2008. Para ser justo, a responsabilidade maior foi da liderança de Durão Barroso.

No entanto, as expetativas criadas de que haveria uma viragem determinada de página com Juncker, expetativas essas que permitiram que a sua nomeação tivesse sido aprovada no Parlamento Europeu com uma confortável e expressiva maioria, foram sendo frustradas ao longo do mandato, de tal forma que, nos últimos tempos, não tem havido sequer condições para aprovar um relatório do Parlamento Europeu sobre o programa da comissão que lidera.

O mandato de Juncker teve momentos muito infelizes, mas não foi por ele que a União Europeia não conseguiu ser mais expedita na resposta às questões-chave que preocupam os seus cidadãos, designadamente à criação de um sentimento de segurança, de esperança e de confiança em relação aos desafios do presente como a transição tecnológica e o emprego, a transição energética e a mobilidade, a gestão solidária das migrações, a conclusão da União Económica e Monetária para amortecer futuros choques financeiros, o impacto dos acordos comerciais ou o combate às desigualdades no seio da união. As hesitações e oposições no Conselho Europeu tiveram, neste domínio, uma responsabilidade maior.

No seu último discurso do Estado da União, tendo em conta o anúncio de não recandidatura, Juncker voltou a fazer uma análise lúcida dos desafios de posicionamento da UE no mundo e a colocar o dedo na ferida das prioridades que, a serem seguidas e concretizadas, permitiriam reconciliar o projeto europeu com os seus cidadãos e as suas comunidades.

Contudo, tendo o presidente da Comissão Europeia repetido essas prioridades, ano após ano, sem consequências práticas consistentes, a sua palavra perdeu credibilidade. Acredito que Juncker não se recandidata, entre outras razões, porque tem consciência da sua credibilidade perdida. A História fará o julgamento do seu mandato. Um julgamento que não será tão arrasador como aquele que impende e impenderá sobre os mandatos de Durão Barroso, em particular sobre o segundo, de capitulação perante os interesses financeiros europeus e mundiais.

Os nove meses que ainda nos distanciam do final do atual mandato político das instituições serão muito exigentes e não recomendam, por isso, balanços prematuros, mas arrisco dizer que a consideração de Juncker de que “só pode defender com convicção a União Europeia quem tiver um forte sentido patriótico, tal como só quem tiver uma forte convicção europeia pode, nos dias de hoje, ser um bom patriota” é uma ideia forte, motivadora e que ficará como marca do seu mandato.

É preciso “amar pelos dois” se quisermos defender, com sentido prático e enquadrado no tempo em que vivemos, o país a que pertencemos e a comunidade que nos amplia a voz e a relevância global.

Eurodeputado

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