observador.ptJosé Pinto - 18 set. 00:53

Rui Rio: o PSD sobreviverá

Rui Rio: o PSD sobreviverá

Dos 18 presidentes do PSD a maioria teve mandatos curtos e era previsível que a liderança de Rio não tivesse vida fácil, mas desvalorizar as críticas não pode deixar de ser visto como sinal de soberba

As críticas internas à curta liderança de Rui Rio à frente do PSD têm sido uma constante. Uma espiral de intensidade crescente. Aliás, alguns sociais-democratas já não escondem que preferem os sil��ncios às intervenções públicas do presidente do partido.

Esta inegável crispação interna e o surgimento de uma dissidência liderada por Santana Lopes têm sido apontados como sinais de que a liderança de Rui Rio estará condenada a curto prazo. Um regresso àquela que tem sido a regra da vida habitual do PPD/PSD.

De facto, dos dezoito presidentes do partido, a maioria teve mandatos curtos. Leonardo Ribeiro de Almeida e Rui Machete desempenharam o cargo de forma interina. O primeiro em substituição de Sá Carneiro, então primeiro-ministro. O segundo, de fevereiro a maio de 1985, devido à demissão de Mota Pinto. Aliás, também Emídio Guerreiro exerceu funções como presidente do partido de maio a setembro de 1975, devido à ausência de Sá Carneiro em tratamento médico no estrangeiro.

Sendo verdade que estas três presidências resultaram de circunstâncias excecionais, não é menos verdade que vários líderes mal tiveram tempo de se sentar na sede da rua de São Caetano à Lapa. A título de exemplo, diga-se que Sousa Franco, eleito no V Congresso, só esteve no cargo de janeiro a julho de 1978, e que o mandato do seu sucessor, Menéres Pimentel, só duraria até abril de 1979.

A lista de mandatos curtos foi comprida porque, para além dos casos mencionados, houve mais de meia-dúzia de presidentes eleitos que não lograram a reeleição no cargo: Nuno Rodrigues dos Santos, Mota Pinto, Fernando Nogueira, Pedro Santana Lopes, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite.

Mandatos curtos de líderes que não chegaram a primeiro-ministro. Santana Lopes como exceção, embora decorrente de méritos alheios, uma vez que foi elevado à condição de herdeiro eleitoral de Durão Barroso.

Aliás, mesmo quando os presidentes do PSD lideraram o Governo, nem sempre contaram com a paz interna. Que o diga Pinto Balsemão quando viu aquilo que designou como uma troika interna propor que passasse a ser a segunda figura de um Governo liderado por Freitas do Amaral, então líder do CDS.

Dificuldades que aumentam exponencialmente quando, como é o caso atual, o PSD está na oposição. Basta lembrar que Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Belém sem passar por São Bento, apesar de ter conseguido a reeleição como presidente do partido.

Face ao exposto, era muito previsível que a liderança de Rui Rio não tivesse a vida facilitada, tanto mais que a geringonça contranatura parece estar a garantir a António Costa uma estranha aceitação por parte do eleitorado. Uma situação que estará longe de poder ser explicada pelo relativo – e circunstancial – sucesso financeiro. Algo a que não será alheio o otimismo posto a circular.

Depois de um tempo – o Governo de Passos Coelho – em que era quase proibido elogiar, mesmo as medidas assertivas, Portugal vive numa conjuntura cor-de-rosa matizada de vermelho em que é desaconselhável criticar. Mesmo, ou sobretudo, quando a realidade desmente a versão oficial. Que o digam os professores. Ou os utentes, médicos, enfermeiros e funcionários dos hospitais. Ou as forças ditas de autoridade.

Voltando à liderança de Rui Rio, ainda não foi possível perceber cabalmente o seu projeto para o partido e para o país.

A nível interno, a desvalorização das opiniões e das críticas dificilmente deixará de ser vista como uma manifestação provinciana de soberba. Tal como o convite à saída do partido das vozes incómodas. Até os processos ligados às despesas das campanhas, uma moralização necessária, podem vir a virar-se contra Rio. Um líder que continua a ter uma relação difícil com a comunicação social. Por isso, no que a Portugal diz respeito, os eleitores ainda não perceberam se Rio quer ser primeiro-ministro ou se apenas deseja o lugar de carregador da geringonça. Uma indecisão que comporta um elevado risco em termos de mobilização política.

Como decorre da vida habitual, mais Aliança menos Aliança, e quaisquer que sejam os resultados eleitorais, o PSD sobreviverá. Quanto à liderança de Rio…

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