expresso.sapo.ptexpresso.sapo.pt - 22 ago. 21:12

Degelo no Ártico. Rota do Mar do Norte vai ser trilhada pela primeira vez por um navio porta-contentores

Degelo no Ártico. Rota do Mar do Norte vai ser trilhada pela primeira vez por um navio porta-contentores

Não é a primeira embarcação a cruzar a rota ao longo da costa da Rússia mas é o primeiro navio porta-contentores a fazê-lo. Empresa dona do navio, a gigante Maersk, diz que não pretende usar esta rota como uma alternativa ao tradicional canal de Suez, mas a verdade é que, com o aquecimento global e o degelo, “abrem-se mais possibilidades de atividade no Ártico”

Não será a primeira embarcação a cruzar a pouco explorada Rota do Mar do Norte, ao longo da costa russa do Ártico, mas será o primeiro porta-contentores a fazê-lo, aproveitando uma janela de três meses de degelo que, com o aquecimento global, se vai alargando. A Maersk, empresa que tem a maior frota de navios porta-contentores do mundo e que também é dona do Venta Maersk, que irá fazer a travessia, diz não querer testar rotas alternativas ao tradicional Canal do Suez para transportar as suas mercadorias da Ásia para a Europa, mas apenas “explorar uma rota que não é usada para transporte de contentores e recolher dados científicos”.

O navio, com capacidade para 3.600 contentores, sairá de Vladivostok, maior cidade portuária da Rússia no oceano Pacífico, a 1 de setembro, acompanhado de um quebra-gelo, e deverá chegar a São Petersburgo no final do mesmo mês. Alguns analistas antecipam que esta viagem possa vir a representar um ponto de viragem tanto para a indústria do transporte marítimo, como para o Ártico, mas outros são mais cautelosos.

“Não é uma mudança drástica, é apenas um desenvolvimento. O gelo está a derreter no Ártico e com isso abrem-se mais possibilidades de atividade”, afirmou Malte Humpert, fundador e investigador do Arctic Institute, um think tank sediado em Washington D.C., à rádio “NPR”, não deixando de alertar para os “riscos ambientais” associados a esta nova exploração.

Também explicou que a Rota do Mar do Norte poderá encurtar em cerca de duas semanas o transporte de mercadorias da Ásia para a Europa, o que não equivalerá, no entanto, a menos custos. Além de não haver infraestruturas no Ártico, também não há opções de transbordo ao longo do caminho, ao contrário do que sucede no canal do Suez, explicou. “A única forma de isto funcionar seria ter dezenas de portos ao longo do caminho para que se pudesse descarregar mil contentores e carregar outros mil, que é como funciona o transporte global de contentores”. À mesma rádio, Paul Bingham, economista especializado no transporte e comércio internacional, antecipou ainda outro problema, relacionado com a janela de tempo de três meses proporcionada pelo degelo. “Durante o resto do ano, precisariam de recorrer a navios quebra-gelos altamente capacitados e, consequentemente, muito dispendiosos”.

Nunca houve tão pouco gelo no Ártico. Em janeiro deste ano, os níveis de gelo caíram para valores recorde e em março voltou a acontecer o mesmo no Mar de Bering. Dados divulgados pelo National Snow and Ice Data Centre, sediado no Colorado (EUA), mostram que os níveis de gelo no último inverno correspondiam a menos de um terço dos registados há cinco anos.

Apesar de pioneira, a Maersk não é a primeira empresa a interessar-se por esta rota. Algumas empresas de transporte marítimo, incluindo a Cosco, que tem sede na China e é a principal rival da Maersk, já estão a usar as águas do Ártico para fazer o transporte de equipamento pesado, como turbinas eólicas. Em julho do ano pasasdo, o navio russo Christophe de Margerie tornou-se o primeiro navio de transporte de gás natural liquefeito a trilhar a rota sem a ajuda de um navio quebra-gelo. Saiu de Snovhit, na Noruega, a 27 de julho, e chegou ao porto de Boryeong, na Coreia do Sul, 22 dias depois, uma viagem 33% mais rápida do que a efetuada normalmente pelo Canal do Suez. Provido de um sistema integrado para partir gelo, chegou a atravessar camadas com 1,2 metros de espessura.

Em comunicado, a Maersk explica que não tenciona usar a Rota do Mar do Norte como uma alternativa às “rotas habituais”. “Planeamos novos serviços conforme a procura e os padrões de negociação”, esclarece, referindo que a travessia terá como objetivo “explorar uma rota que não é usada para transporte de contentores e recolher dados científicos”.

NewsItem [
pubDate=2018-08-22 22:12:09.0
, url=https://expresso.sapo.pt/internacional/2018-08-22-Degelo-no-Artico.-Rota-do-Mar-do-Norte-vai-ser-trilhada-pela-primeira-vez-por-um-navio-porta-contentores
, host=expresso.sapo.pt
, wordCount=624
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2018_08_22_1076298811_degelo-no-artico-rota-do-mar-do-norte-vai-ser-trilhada-pela-primeira-vez-por-um-navio-porta-contentores
, topics=[internacional]
, sections=[actualidade]
, score=0.000000]