sol.sapo.ptsol.sapo.pt - 20 ago. 20:02

Teólogos acusam Papa Francisco de adulterar sentido das Escrituras

Teólogos acusam Papa Francisco de adulterar sentido das Escrituras

Grupo de meia centena de intelectuais fala em "situação gravemente escandalosa" na Igreja, a propósito da recente alteração ao Catecismo sobre a pena de morte

É um apelo inédito aos cardeais da Igreja Católica. Depois de o Papa Francisco ter alterado a redação do Catecismo da Igreja Católica sobre a pena de morte,  um grupo de cerca de meia centena de filósofos, teólogos e escritores de várias partes do mundo escreveram uma carta em que acusam o sumo pontífice de contrariar o que está escrito nas escrituras. O grupo de intelectuais – onde se incluem padres e professores de Ética, Filosofia, Direito ou Teologia de instituições de prestígio como a Universidade de Oxford – pedem aos cardeais que aconselhem o Papa a voltar atrás numa decisão que consideram “gravemente escandalosa”, pondo assim em causa a infalibilidade do sumo pontífice.

Recentemente, o Papa Francisco fez uma revisão ao Catecismo da Igreja Católica no capítulo que diz respeito à pena de morte. Até ao início deste mês, o texto (cuja última versão datava de 1992) admitia o recurso à pena máxima, se aplicada “como uma resposta adequada à gravidade de alguns delitos” e “para a tutela do bem comum”. Mas Francisco alterou a doutrina e o Catecismo passou a dizer que a pena de morte é “inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa humana”.

Ora o manifesto dos teólogos – que começou por ser subscrito por 45 intelectuais, mas que já vai com mais de 70 nomes – garante que esta alteração significa “contrariar a Sagrada Escritura”. Isto porque, sustentam, existem várias passagens na Bíblia que afirmam que “a pena de morte pode ser um meio legítimo de assegurar a justiça retributiva”.“É uma verdade contida na palavra de Deus (...) que criminosos podem, legalmente, ser condenados à morte pelo poder público quando isso se mostra necessário para preservar a ordem na sociedade civil”, lê-se na carta, que acusa o Papa Francisco de lançar a confusão: “[O Papa] já manifestou publicamente – mais do que uma vez – a sua recusa em transmitir esta doutrina e (...) tem trazido grande confusão à Igreja”.

As acusações vão mais longe, com o grupo a escrever que Francisco contraria mesmo a palavra de Deus. “Ao inserir no Catecismo da Igreja Católica um parágrafo que já está a levar muitas pessoas – crentes e não-crentes – a supor que a Igreja considera, contrariamente à palavra de Deus, que a pena capital é intrinsecamente má”, aponta o texto.

Os teólogos justificam o abaixo-assinado com o “direito expresso no Direito Canónico” de exporem publicamente o assunto para tentarem “salvaguardar a integridade da fé e dos costumes” e pedem aos mais de 200 cardeais da Igreja que “ponham fim a este escândalo, como é seu dever”. “Deverão aconselhar Sua Santidade a retirar este parágrafo do Catecismo e a transmitir a palavra de Deus de forma não adulterada”, apela o texto, recordando aos cardeais que se trata de “um dever” a que estão vinculados.

A carta foi divulgada há já vários dias, na internet, mas ainda não houve qualquer reação por parte do Vaticano – apesar de se tratar do mais violento protesto publicado contra Francisco desde que é Papa.  Recorde-se que, em setembro de 2016, um grupo de cardeais conservadores –  os alemães Walter Brandmüller e Joachim Meisner, o italiano Carlo Caffarra e o americano Raymond Leo Burke – escreveram ao Papa, acusando-o de lançar a confusão com a publicação da encíclica “Amoris Laetitia” [”Alegria do amor”], em que Francisco propõe que a Igreja seja mais acolhedora face às realidades das famílias contemporâneas, admitindo que os divorciados possam, em alguns casos, aceder à comunhão. O Papa preferiu ignorar os cardeais e nunca respondeu à carta.   

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