observador.ptJosé Milhazes - 19 jul. 19:01

Quem mente mais: Putin ou Trump?

Quem mente mais: Putin ou Trump?

Não sei foi Putin ou Trump quem venceu em Helsínquia, mas parece ser claro que a humanidade sofreu mais uma pesada derrota. O mundo é governado por dirigentes cada vez mais irresponsáveis.

O principal resultado da cimeira de Helsínquia, realizada no início da semana, não é o “descongelamento” dos canais de ligação entre Moscovo e Washington, mas a demonstração pública da falsidade e da incompetência de dois dirigentes cujos países, em conjunto, controlam cerca de 90% das armas nucleares do mundo.

Vladimir Putin, porque controla o seu país com mão de ferro, e Donald Trump, porque acredita piamente que é o maior e o melhor presidente dos Estados Unidos, desprezam completamente a opinião pública e comportam-se como políticos que desconhecem o que é a sociedade da informação.

Um dos lapsos de Vladimir Putin foi tão grave que o centro de imprensa do Kremlin se viu obrigado a emendar o texto do Presidente russo antes de o publicar. Na conferência de imprensa realizada após a cimeira, o dirigente russo afirmou a propósito da anexação da Crimeia: “Nós consideramos que Nós realizámos um referendo em conformidade total com o Direito Internacional, com a Carta das Nações Unidas”.

Porém, na página electrónica do Kremlin, o segundo nós desaparece, o que muda todo o sentido da declaração: “Consideramos que foi realizado um referendo em conformidade total com o Direito Internacional, com a Carta das Nações Unidas”.

Ou seja, na conferência de imprensa Putin reconheceu que o referendo, que ele utiliza para legitimar a anexação da Crimeia, não foi organizado e realizado pelas autoridades locais, mas por “Nós”, isto é, pelos invasores para justificar a grosseira violação do Direito Internacional.

O líder russo voltou a “enganar-se” quando afirmou que o investidor britânico William Browder alegadamente contribuiu para os cofres do Partido Democrático dos Estados Unidos com “400 milhões de dólares”, número que foi emendado, no dia seguinte, para “400 mil”.

Quanto à possibilidade dos serviços russos terem “informações comprometedoras sobre Trump”, Putin, numa entrevista à Fox News, foi peremptório: “Não temos qualquer ‘material comprometedor’ e não podíamos ter. Não quero ser mal-educado para o presidente Trump, mas ele não tinha qualquer interesse para nós até ter anunciado a candidatura à presidência”.  “Tudo isso é uma estupidez”, rematou o “czar” Vladimir.

Andrei Ilarionov, antigo conselheiro do Kremlin, recorda a propósito que Trump começou a falar das suas ambições presidenciais em 1987 e só não foi recebido por Putin em 2013, quando visitou Moscovo para assistir ao espectáculo de “Miss Universo”, porque, mesmo estando o encontro combinado, o dirigente russo desmarcou-o porque teve de se encontrar com o rei da Holanda.

“O encontro com Putin foi suspenso à última da hora, mas ele enviou uma caixinha pintada, presente tradicional russo, e uma nota muito calorosa”, recordou Aras Agalarov, organizador do citado concurso, numa entrevista ao Washington Post.

Para um antigo espião soviético, o dirigente russo está claramente a perder profissionalismo.

Já Donald Trump, ou por inexperiência profissional ou simplesmente por incompetência, passa a vida a “meter as mãos pelos pés e os pés pelas mãos” quando aborda a questão da ingerência russa nas eleições presidenciais norte-americanas. Na conferência de imprensa, declarou: “Os meus subordinados Dan Coats e vários outros declararam que, segundo eles, foi a Rússia. O Presidente Putin disse que não foi a Rússia. Digo o seguinte: não vejo qualquer razão para que tenha sido ela”.

Chegado a Washington, onde essa declaração foi considerada como mais uma bofetada nos serviços secretos norte-americanos, Trump afirmou exactamente o contrário, coisa que se torna frequente nas suas declarações. Numa altura em que os meios técnicos são capazes de fixar tudo e em que é cada vez mais difícil esconder o que quer que seja, contradições deste tipo só podem fazer aumentar seriamente as suspeitas já existentes.

Se, antes da conferência de Helsínquia, ainda havia pouca margem para dúvidas no que respeita à ingerência russa nas eleições norte-americanos, hoje pode-se afirmar que aqui “há mesmo gato”.

Putin pode mentir à vontade porque, por enquanto, ninguém lhe pede contas no seu país. Já Donald Trump, nos Estados Unidos, tem oposição política e tribunais independentes.

Uma coisa é certa: não sei foi Putin ou Trump quem venceu em Helsínquia, mas parece ser claro que a humanidade sofreu mais uma pesada derrota. O mundo é governado por dirigentes cada vez mais irresponsáveis e, às vezes, infelizmente, eleitos.

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