expresso.sapo.ptexpresso.sapo.pt - 18 jul. 23:01

Escolher a aparência física do seu bebé? Cientistas não colocam a hipótese de lado

Escolher a aparência física do seu bebé? Cientistas não colocam a hipótese de lado

A modificação genética de embriões humanos, incluindo por questões estéticas, é “moralmente defensável”, defende um grupo de cientistas britânicos num novo parecer ético sobre a questão. Outros membros da comunidade de estudos de genética dizem que podemos ficar próximos da eugenia

Será possível pedir um bebé a partir de um catálogo? Há um novo parecer ético que não coloca de parte a possibilidade de que, no Reino Unido, venha a ser possível aos pais escolher a aparência física dos bebés. O Conselho de Bioética de Nuffield apresentou, no início da semana, um relatório que abre a porta para uma mudança na lei vigente e defende ser “moralmente defensável” a modificação genética de embriões humanos.

Atualmente, a prática só é possível - para investigações, testes e estudos - durante 14 dias e o produto dessa investigação tem que ser destruído depois disso, sendo totalmente proibida a sua inseminação no útero de uma mulher. Apesar de alguns cientistas defenderem, hoje em dia, a modificação genética como forma de tentar combater o aparecimento, mais tarde na vida, de doenças degenerativas, como cancro ou demência, os cientistas não rejeitam totalmente a possibilidade de incluir aspetos estéticos nessas mudanças - caso isso significasse que a criança teria mais possibilidades de sucesso no futuro.

Karen Yeung, cientista nesta área e diretora do grupo que se juntou para emitir este novo parecer, disse, citada pelo diário britânico “Daily Telegraph” que “existe a possibilidade de, no futuro, se poder utilizar a alteração do código genético na procriação médica assistida como forma de os pais garantirem certas características genéticas nos seus filhos”.

No início, continua Yeung, “esta possibilidade irá envolver a prevenção de doenças hereditárias mas, depois, pode evoluir para outros objetivos, dependendo daquilo que desejam os pais das crianças”.

Na resposta, David King, diretor do grupo Alerta Genética Humana, disse que estas experiências levariam ao desenvolvimento de uma sociedade a “duas velocidades” na qual as pessoas que não pudessem pagar o acesso a esse “serviço” estariam em desvantagem em matéria de oportunidades, tal como os seus filhos e por aí em diante. “Isto é uma autêntica desgraça. Tivemos uma lei que proibia a engenharia genética com vista à eugenia durante 30 anos. E há 15 anos as pessoas deste país disseram ‘não’ à comida geneticamente modificada. Vão agora dizer ‘sim’ a bebés geneticamente modificados?”, perguntou o professor, citado igualmente pelo “Daily Telegraph”.

King apelidou mesmo a prática de “bioética dos neoliberais” que colocam “os caprichos individuais à frente das necessidades mais básicas das sociedades humanas: a igualdade”. Mesmo assim, a professora Karen Yeung, não quis vedar totalmente este procedimento à alteração genética com fins estéticos. “Não vou colocar nenhuma possibilidade de parte”, disse quando questionada sobre se as alterações genéticas poderiam incluir pedidos por olhos azuis, cabelo loiro e altura acima da média.

Não é a primeira vez que os cientistas de Nuffield escrevem pareceres positivos sobre assuntos controversos na área da genética. Foram eles que lançaram a discussão sobre os “bebés com três ADN”, um processo pelo qual o ADN de uma segunda mulher é inserido no código genético para reparar uma falha previamente detectada. A lei foi mudada e os primeiros bebés com ADN de três pessoas deverão nascer no início de 2019 ou ainda no fim do ano corrente.

Um outro estudo, divulgado no Reino Unido no início desta semana, mostra que mesmo os procedimentos mais testados de alteração genética não são totalmente seguros. O Instituto Wellcome Sanger diz que a utilização do Crispr (utilização de uma enzima para descobrir falhas nos segmentos de DNA que depois é cortado e substituído com código saudável) pode causar mutações genéticas muito para além do local onde o novo gene foi inserido.

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