www.jornaldenegocios.ptJim O'Neill - 18 jul. 14:00

O futuro incerto da economia global

O futuro incerto da economia global

Espera-se que alguém próximo de Trump possa fazê-lo mudar de ideias antes que as suas políticas façam descarrilar a tão esperada recuperação do mundo.

No início de 2018, a maior parte da economia mundial estava a registar uma recuperação cíclica sincronizada, que parecia anunciar um período mais longo de crescimento sustentável e o fim da década de ressaca da crise de 2008. Apesar do choque do Brexit, das nuvens cinzentas sobre o Médio Oriente e a península coreana e do comportamento imprevisível do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o aumento dos investimentos e salários e a queda das taxas de desemprego pareciam estar para breve.

No entanto, como avisei em Janeiro, "o clima global mudou do medo sobre os riscos políticos para o esquecimento, embora muitos desses riscos ainda pareçam grandes". Além disso, apesar de os meus indicadores globais preferidos estarem todos a subir, preocupava-me se essa tendência continuaria após o primeiro semestre de 2018, devido a complicações previsíveis, como o aperto monetário nas economias avançadas, especialmente nos EUA.

E eis que estamos agora a meio do ano de 2018, e alguns desses mesmos indicadores já não estão a parecer tão optimistas. Embora o Índice de Gestores de Compras (PMI) de Junho do Institute for Supply Management (ISM) dos EUA permaneça muito forte, outras pesquisas comparáveis ??em todo o mundo não são tão robustas como há seis meses. Mais importante ainda, a actividade das empresas diminuiu tanto na China como na Europa.

Outro indicador importante são os dados comerciais da Coreia do Sul, publicados mensalmente e antes de qualquer outro país. No dia 1 de Julho, ficámos a saber que as exportações sul-coreanas caíram, em termos homólogos, em Junho de 2018. Enquanto 2017 foi um ano recorde para as exportações do país, 2018 está a ser marcado por vários meses de desaceleração. Ironicamente, esta queda coincide com a melhoria das relações com a Coreia do Norte, enquanto o forte desempenho do ano passado ocorreu apesar das "provocações nucleares" na península coreana.

O enfraquecimento das exportações sul-coreanas exige uma cuidadosa análise de acompanhamento, tanto dos dados comerciais de outras grandes economias como dos dados de Julho da Coreia do Sul, que serão publicados a 1 de Agosto. Dada a preocupante escalada das tarifas de importação de Trump e as medidas de retaliação perseguidas pela China, pela União Europeia e por outras economias, não devemos ficar surpreendidos se o enfraquecimento do comércio global persistir.

Dito isto, também não se deve presumir que a queda dos números do comércio é um resultado directo das tarifas. Ainda não temos uma distribuição regional completa do desempenho das exportações. Mas a partir dos dados disponíveis para os primeiros 20 dias de Junho, podemos ver que as exportações sul-coreanas para os EUA e a China foram bastante fortes; a fraqueza foi nas exportações para os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático e do Médio Oriente. Se for este o caso, há menos motivos de preocupação que o forte desempenho do comércio global nos últimos 12 a 18 meses esteja a ser revertido.

Afinal, estamos numa década em que a economia mundial é dominada pela actividade nos EUA e na China. De acordo com os meus cálculos, 85% do crescimento do PIB nominal em todo o mundo desde 2010 deve-se a esses dois países, com os EUA a representarem 35% e a China 50%. Assim, enquanto a China e os EUA estiverem bem, pode-se esperar que a economia global registe um crescimento anual de cerca de 3,4%.

Quanto ao resto do mundo, os indicadores económicos desde meados do ano passado até ao início de 2018 pareciam sugerir que muitos dos países com fraco desempenho estavam finalmente a recuperar. O Brasil, a UE, o Japão e a Rússia registaram ligeiros declínios desde 2010, mas mostraram sinais de melhoria em 2017.

Por exemplo, em meados do ano passado, a UE parecia estar à beira de uma recuperação cíclica robusta e generalizada. Mas o cenário agora já não é o mesmo. Economias importantes como França e a Alemanha registaram uma desaceleração, talvez devido aos receios de uma guerra comercial global. E, naturalmente, as negociações penosas do Brexit, o novo governo anti-sistema de Itália e uma crise política no seio da UE sobre a imigração criaram mais incertezas económicas. A crise da imigração, em particular, poderá ter graves consequências tanto para o governo da chanceler alemã Angela Merkel como para a coesão da UE.

Contudo, o abrandamento económico da Europa pode revelar-se temporário, e o PMI dos países da Zona Euro melhorou um pouco em Junho, depois de alguns meses de declínio acentuado. Mas seria imprudente descartar o pior cenário.

Ainda assim, como vimos, a sustentabilidade do crescimento global depende em grande parte dos EUA e da China. Obviamente, se esses dois gigantes económicos começarem uma guerra de tarifas, ambos perderão - e a economia mundial também. Para os EUA, onde o consumo representa cerca de 70% do PIB, uma evolução positiva do comércio internacional e um clima estável e favorável aos investimentos são essenciais para o crescimento sustentável.

Jim O'Neill, ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management, é professor honorário de Economia na Universidade de Manchester e antigo presidente da revisão sobre a Resistência Antimicrobiana do governo britânico.

Copyright: Project Syndicate, 2018.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

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