www.jornaldenegocios.ptJorge Fonseca de Almeida - 17 jul. 18:30

Um museu contra a Humanidade

Um museu contra a Humanidade

A democracia era condenada, o comunismo ilegalizado, o racismo aceite, a perseguição e a liquidação das minorias étnicas uma prática corrente. Assim se definia o espirito do tempo.

Nas primeiras d��cadas do século XX por toda a Europa surgiram partidos nacionalistas, racistas e xenófobos, baseados em ideologias totalitárias de extrema-direita e ancorados em numerosos académicos que difundiam teorias da superioridade racial de certos indivíduos.

Todos estes agrupamentos políticos foram liderados por criaturas nascidas e criadas no século XIX, quando a visão do mundo e da sociedade era, obviamente, muito diferente da atual.

Em poucos anos, muitos destes partidos chegaram ao poder instalando ditaduras fascistas. O

Tudo isto a propósito de um museu que o executivo da Câmara de Lisboa dirigido pela coligação Partido Socialista-Bloco de Esquerda quer construir em louvor das Descobertas portuguesas e de um dos argumentos a favor da exaltação de um dos períodos em que Portugal invadiu, ocupou, brutalizou e escravizou milhões de pessoas, especialmente pessoas Negras, nas várias partidas do globo, impondo uma forma muito particular e cruel de (in)civilização.

O argumento, que vem sido repetido à exaustão pelos mais brilhantes intelectuais e académicos, é o de que não podemos olhar a História pelos olhos de hoje, que na época todas essas atividades que hoje consideramos criminosas eram aceites e normais.

Pensarão os mesmos autores que seria defensável hoje construir um Museu com a apologia do III Reich com base nesse argumento? Devem os espanhóis erigir um museu a glorificar Franco ou os italianos Mussolini? Na verdade na sua época é que eram glorificados e as suas ações consideradas normais pela maioria dos países ocidentais.

Ou pelo contrário devemos considerar que os grandes valores humanos, a liberdade, a igualdade e a fraternidade, são universais em extensão, i.e. aplicáveis em todo o mundo, e em profundidade, i.e. devem servir de critério para todas as épocas?

Perceber o espirito de uma época não é glorifica-lo, é entender que em muitas dessas épocas foi a crueldade, a desumanidade e a cobiça que triunfou e, através de uma reflexão critica entender o que devemos fazer para que esses crimes não se repitam. É por isso que na Alemanha há museus sobre o Holocausto e não sobre a expansão hitleriana.

Na verdade só analisando criticamente o passado podemos construir um melhor futuro. Glorificar o crime, aceitar como legítima no passado a desumanidade, sob que argumento for, é o primeiro passo para a justificar no presente.

É por isso que este Museu não deve ser construído.

Economista

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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