www.publico.ptpublico.pt - 25 mai. 08:00

Vela. “Maxi Edmond de Rothschild”, construído para voar e bater recordes

Vela. “Maxi Edmond de Rothschild”, construído para voar e bater recordes

Com 32 metros e quase 16 toneladas, o imponente trimarã de 12 milhões de euros estará até hoje em Cascais. Cyril Dardashti, director geral da equipa Gitana, revela os objectivos deste barco revolucionário

É grande, muito grande, e durante três dias foi o centro das atenções na baía de Cascais. O revolucionário Maxi Edmond de Rothschild, trimarã de 32 metros desenvolvido pelo arquitecto naval Guillaume Verdier, é a nova coqueluche da equipa Gitana e promete fazer furor no mundo da competição da vela. O PÚBLICO subiu a bordo deste inovador multicasco orçado em 12 milhões de euros, e, mesmo com vento moderado, sentiu o peso de fazer voar um gigante de 16 toneladas. Cyril Dardashti, director geral da equipa criada em 2001 pelo barão Benjamin de Rothschild, admite que apesar de o barco estar ainda em desenvolvimento, pode atacar já próximo ano o ambicionado recorde da volta ao mundo à vela em solitário.

O nome de baptismo é Gitana 17, mas quando veste o fato de competição assume-se como Maxi Edmond de Rothschild. Durante três dias - zarpa hoje de Portugal rumo à sua base em Lorient – este colosso de 32 metros de comprimento por 23 de largura andou em testes ao largo de Cascais e, apesar de a meteorologia não ter ajudado a que mostrasse todo o seu potencial, bastou um vento moderado de 15 nós para que o gigante trimarã de 15,5 toneladas descolasse e, apoiado nos foils, voasse a uma velocidade de 33 nós (cerca de 61km/h). Para se ter uma ideia da relevância destes números, ontem a frota da Volvo Ocean Race deparou-se com um sistema de baixa pressão que ofereceu condições quase perfeitas para os monocascos velejarem no Oceano Atlântico, o que permitiu que a AzkoNobel estabelecesse um novo recorde de distância percorrida em 24 horas: 567.03 milhas náuticas. Apesar de ter sido um recorde, a velocidade média foi de 23,6 nós e os VO65 apenas se aproximaram dos 30 nós. Isto, com óptimas condições para velejarem.

O Maxi Edmond de Rothschild é, no entanto, de outro campeonato. Em conversa com o PÚBLICO, o francês Cyril Dardashti, director geral da equipa Gitana, começou por referir que apesar de este trimarã ser “completamente inovador e revolucionário, não é um ‘concept boat’. Foi desenhado para voar, porque essa é a forma como achamos que podemos ganhar as corridas”. Criada em 2001 pelo barão Benjamin de Rothschild, que dessa forma mantém o legado de uma das maiores dinastias mundiais do sector financeiro e bancário, a equipa Gitana carrega nos ombros quase século e meio de ligação entre a família Rothschild e a indústria naval. “Gitana é um nome com história. Existe desde 1876, quando um barco construído para a baronesa Julie Caroline de Rothschild foi baptizado como o nome de Gitana”, conta Cyril Dardashti. Todavia, este francês esclarece que os objectivos do projecto são tudo menos lúdicos: “O barão Benjamin de Rothschild sempre defendeu a profissionalização de vela de competição. Quis, por isso, criar um projecto similar ao que se passa na Fórmula 1. Fomos os primeiros a estruturar uma equipa dessa forma. Ofereceremos todos os meios técnicos para preparar os barcos e, tal como na Fórmula 1, entregamos o volante ao piloto. Tradicionalmente, na vela clássica, os skippers têm que pegar na sua mala e andar à procura de patrocinadores para os seus projectos, quando deviam estar apenas preocupados na melhor forma de se prepararem para ganhar corridas. Aqui é diferente. A Gitana é o motor e é a equipa que escolhe o skipper.”

Prestes a completar 20 anos, a Gitana mantém o objectivo inicial de competir e ganhar corridas – “Não nos queremos limitar a marcar presença na linha da partida” -, mas Dardashti afirma que há cinco anos surgiu um “desafio completamente diferente”: “Em 2013, com a Team New Zealand [na America’s Cup], vimos os primeiros barcos com foils, e não tivemos dúvidas que a vela offshore também teria que seguir por esse caminho”. Porém, os AC72 que voaram em São Francisco na America´s Cup eram catamarãs com menos de “dez velejadores a bordo, sete toneladas e 15 metros de comprimento”. Para fazer voar “um barco com 32 metros de comprimento, 16 toneladas e que foi pensado para ter apenas uma pessoa a bordo” seria “preciso ter os meios técnicos” para fazer “um trimarã completamente inovador e revolucionário” e um investimento de 12 milhões de euros – o orçamento anual da equipa é de 3,5 milhões de euros.

“Começamos a trabalhar no projecto no final de 2013. Fizemos um primeiro ensaio com o Gitana 15, um trimarã mais pequeno que foi modificado por nós, para vermos como o barco se podia comportar. Concluímos que era possível colocá-lo a voar e com a experiencia adquirida partimos para o Maxi Edmond de Rothschild, que começou a ser construído em 2015.”

Após vinte meses de trabalho, o trimarã da classe “Ultime” foi colocado nas mãos do skipper francês Sébastien Josse a 17 de Julho do ano passado o que, segundo Dardashti, oferece um grande avanço à Gitana em relação aos seus principais opositores: “Os nossos concorrentes também vão seguir o nosso caminho, mas antecipamo-nos quatro ou cinco anos. Prefiro ser seguido, do que seguir.”

Com praticamente um ano de navegação e um pequeno percalço pelo meio – um problema no elevador dos foils fez com que o Maxi Edmond de Rothschild não conseguisse vencer a Transat Jacques Vabre 2017 -, o rumo do Gitana 17 aponta agora à 40.ª edição Rota do Rum, mítica regata que ligará a partir de 4 de Novembro Saint-Malo, na Bretanha, à Guadalupe, nas Caraíbas. Depois, Dardashti não colocada de lado a hipótese tentar, já em 2019, bater o recorde da volta ao mundo à vela em solitário, estabelecido há meio ano por François Gabart, a bordo do trimarã Macif: 42 dias, 16 horas, 40 minutos e 35 segundos. “Neste momento, já sabemos que é um barco competitivo em equipa ou em solitário. Sabemos que é rápido. Temos uma panóplia de opções enorme. Podemos fazer qualquer tipo de regatas offshore; podemos atacar o recorde do Atlântico ou da volta ao Mundo. Em solitário ou em equipa. Queremos que este barco seja o mais polivalente possível. Essa é a grande dificuldade: que seja um canivete suíço”, revela ao PÚBLICO o director geral da Gitana.

NewsItem [
pubDate=2018-05-25 09:00:00.0
, url=https://www.publico.pt/2018/05/25/desporto/noticia/maxi-edmond-de-rothschild-construido-para-voar-e-bater-recordes-1832068
, host=www.publico.pt
, wordCount=1012
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2018_05_25_571777955_vela-maxi-edmond-de-rothschild-construido-para-voar-e-bater-recordes
, topics=[vela]
, sections=[desporto]
, score=0.000000]