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Reportagem. Manifestantes do Stop Eutanásia exigiram "direito à vida" e "melhores cuidados de saúde"

Reportagem. Manifestantes do Stop Eutanásia exigiram "direito à vida" e "melhores cuidados de saúde"

"De frente" para a Assembleia da República, oradores quiseram apelar "à consciência de cada deputado" numa altura em que "ainda estão a tempo de decidir rejeitar" a legislação que vai ser discutida e votada na próxima terça-feira.

A chuva já tinha abrandado e a manifestação contra a despenalização da eutanásia já juntava duas centenas de pessoas de todas as idades com bandeiras de Portugal e slogans "a favor da vida" quando o primeiro de vários oradores falou aos presentes. O palanque foi montado frente à escadaria da Assembleia da República para assim “falarem à consciência de cada um dos deputados". Eles representam "boa parte do povo português”. 

A fundadora do movimento da sociedade civil Stop Eutanásia Sofia Guedes foi quem nesta quinta-feira primeiro falou antes de apresentar, um a um, os oradores: o padre Nuno Coelho, a enfermeira Sara Sepúlveda, que cuida de doentes em fim de vida, o psicólogo Abel Matos Santos, a jurista Sofia Galvão, o juiz Pedro Vaz Patto, entre outras personalidades que marcaram presença, como Gentil Martins. 

O médico e professor foi um dos ex-bastonários da Ordem dos Médicos que ontem entregaram ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, uma declaração na qual se opõem à despenalização da eutanásia, uma iniciativa à qual se juntou o actual bastonário da Ordem dos Médicos Miguel Guimarães.

Gentil Martins disse que apenas o preocupava aqueles que "não acreditam que a vida é um dom de deus". Criticou a forma "leviana" como se está a tentar tomar uma decisão e aprovar uma lei e apelou aos deputados que não aprovem "os planos que estão a ser discutidos".

“Se calhar, muito poucas outras leis nos fariam estar num dia de chuva a meio da semana. O que nos move é sabermos que estão em causa [com estes projectos de lei] os alicerces da nossa civilização e da nossa ordem jurídica. Esta não é uma questão como outra qualquer. Uma questão tão importante como esta não pode ser votada por esta assembleia”, defendeu o juiz Pedro Vaz Patto, antes de a enfermeira Sara Sepúlveda dizer que as pessoas estavam unidas nesta concentração para “exigir [a garantia de] cuidados paliativos em todo o país”. 

"Dizem-nos que [a morte medicamente assistida] é a pedido de quem sofre. A seguir dirão que que também abrange aqueles que não conseguem pedir"

Sara Sepúlveda contou como ao longo de mais de 20 anos a acompanhar pessoas em fim de vida, nas unidades de saúde ou nas suas próprias casas, nunca ouviu ninguém dizer que queria morrer. E acusou os projectos de lei de serem “uma violência democraticamente imposta”. “Não se deixem enganar com a morte digna", acrescentou. "Dizem-nos que [a morte medicamente assistida] é a pedido de quem sofre. A seguir dirão que que também abrange aqueles que não conseguem pedir" em nome do "direito a todos à eutanásia”.

A enfermeira concluiu: “Nós sabemos tratar de quem sofre. Nós podemos tratar as pessoas, se nos forem para isso dadas as condições que nos são retiradas todos os dias.”

"Não quero viver mais assim"

O padre Nuno Coelho disse que quando visitava pessoas em sofrimento ou em fim de vida, nas suas casas ou nos hospitais, não era pouco habitual ouvir – "Chega, não quero viver mais" – e que, quando isso acontecia, a sua resposta se limitava a acrescentar uma palavra ao que as pessoas diziam: "Não quer viver mais assim." E enfatizou: "Viver assim, desta forma solitária, desta forma em que ninguém se interessa por nós." 

Na manifestação que acabou por juntar pelo menos 300 pessoas, no Largo de São Bento, os participantes falaram contra “uma mudança de sociedade” que se “quer impor”, e com ela abalar um dos “alicerces da civilização”, e defenderam o “valor da vida” como “inviolável”. “Queremos viver e, queremos cuidar e ser cuidados até ao fim da vida”, foi uma das frases mais pronunciadas, entre palmas de participantes e slogans como “Os doentes merecem mais” ou “A vida unida jamais será vencida”.

Entre os presentes, alguns afirmavam que este é "um tema que está muito acima de qualquer ideologia política ou partidária" e insurgiam-se contra o facto de estes projectos de lei não estarem nos programas de nenhum partido, a não ser do PAN.

Um deles era José Luís Carvalho, 45 anos, que veio do Porto, onde será organizada uma vigília na noite de segunda para terça-feira, dia em que a Assembleia vai discutir e votar os quatro projectos de lei sobre morte medicamente assistida, do PAN, BE, PS e PEV. Insistiu que esta não é uma questão partidária e que não quer "equacionar um cenário em que a lei seja aprovada" e que o Presidente da República tenha que a vetar ou promulgar.

Tem esperança que ela não seja aprovada e, por isso, nesta quinta-feira não deixou de marcar presença na manifestação. “Achámos importante virmos aqui hoje e estarmos no local onde vai ser a decisão, quando ainda há tempo para os deputados indecisos não decidirem pela aprovação", acrescentou. "Os deputados têm que sentir o pulso à população. Portugal merece uma boa votação para não ir além de outros países, de forma precipitada."

Jovens marcaram presença

“A presença de dezenas de jovens na concentração mostra que os jovens estão comprometidos com os nossos idosos e que não os querem deixar num qualquer serviço de saúde que execute a morte”, disse o psicólogo clinico Abel Matos Santos, antes de exigir que devem existir nos hospitais recursos para “cuidar e ser cuidados”.

No final, António, 14 anos, fez questão de falar em nome dos mais novos e também ele deixou uma mensagem em forma de pergunta: "Não será nosso dever fazer um mundo melhor para as gerações vindouras?"

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