Uma inquietação permanente, mas guardando frequentemente picos de inquietação pública, é a de compatibilizar, como regra, a coincidência entre a legalidade e a ética, o que em geral significa que a autenticidade da governança, em qualquer dos modelos vigentes, foi atingida para alarmar a sociedade civil. Isso revela que, na sociedade que se mostra atingida, persiste a adesão a paradigmas, que o direito não reproduz necessariamente, mas que se espera não serem violados, sobretudo pelos guardas dos guardas. Entre os que mais se distinguiram modernamente pela busca do que chamam "paradigmas", isto é, valores que significam um normativo respeitado por essas definições legais, distinguiu-se Hans Küng, que foi um teólogo participante, como especialista, no Concílio Vaticano II, e a quem, em 1979, "foi retirada pelo Vaticano a licença eclesiástica", por ter duvidado da infalibilidade do papa. Contribuiu para a importância dos princípios da "terra única", isto é, sem guerras, e da "terra morada de todos os homens", onde - como disse à Assembleia Geral da ONU Paulo VI - o desenvolvimento sustentado seria o novo nome da paz. A Fundação Ética Mundial, que Hans Küng fundou, é animada por este seu pensamento, hoje de novo posto no centro da discussão sobre o que chamou Uma Boa Morte, ensaio que contrario, mas já traduzido para português pela Relógio d"Água, e que não pode ser ignorado. Não teve a projeção que merecia, na indispensável opinião pública, a reunião na Assembleia da República, a 13 de abril deste ano, da Universal Peace Federation, International Association of Parliamentarians For Peace, com um debate centrado sobre as "Perspetivas para a paz sustentável na Europa e no mundo: a responsabilidade dos parlamentares", um evento inscrito em 24 conferências realizadas entre 2016-2017, em 24 Estados, incluindo os que têm sido mais problemáticos, designadamente a Coreia do Sul e os EUA, respetivamente em 2016, e 28 de novembro a 1 de dezembro do mesmo ano, o que significa que os responsáveis não ignoram que o globalismo conduziu a uma arena de conflitos armados, que o direito internacional e as suas instituições não controlam de acordo com os princípios que as últimas pretenderam direcionar para a autenticidade, de modo que já se fala sobre a urgência de construir uma ONU da Paz. A fundação desta Federação para a Paz Universal, devida ao Rev. Dr. Sun Myung Moon, já em dezembro de 2005, incluindo agora a sessão da nossa Assembleia da República, que teve intervenção de importância a respeitar, destacando, entre iguais, a que foi moderada pela presidente da Federação das Mulheres para a Paz Mundial, Dra. Marta Rodrigues. O problema da ética, que tem mergulhado a Assembleia em profunda e esperançosa e proveitosa meditação, não é uma situação singular neste globalismo desregulado. A crise financeira mundial não resultou de um respeito pela legalidade esperada da democracia americana, longe de continuar com segurança a ser a Casa no Alto da Colina, e basta a situação do Brasil para compreender a oportunidade e a importância com que, pelos "Serviços da política legislativa para os media", se ocupou da XLVII reunião ordinária do Centro Latino-Americano de Administração para o Desenvolvimento (CLAD), em novembro passado, e onde Portugal "votou favoravelmente a metodologia para aprovação da Carta Ibero-Americana de Ética e Integridade na Função Pública. Do que se trata é de conseguir diagnósticos fiáveis sobre a "integridade nacional", em "todos os pilares fundamentais da estrutura sociopolítica e económica do país". De cada país. O aviso é sobre a generalizada falta de autenticidade na governança mundial, a violação do sistema jurídico imaginado para uma ONU da Paz no fim da Segunda Guerra Mundial, e em consequência o crescente risco para o "mundo único". O apelo à ética apoia-se na convicção de que no princípio era o verbo, que tem de impor aos governos a substituição do "verbo eu" pelo progressivamente abandonado "verbo nós". É de sublinhar a proliferação da literatura que lida com a intervenção das Igrejas, sem distinção de matrizes, mas com evidente unanimidade, mas não confessada, da necessidade de paradigmas que presidam com eficácia às regulamentações jurídicas imperativas, respeitadas, com renovação, como se fez no fim da Segunda Guerra Mundial, das jurisdições dos tribunais supranacionais. A experiência de Nuremberga não é necessariamente para esquecer, ao ter a coragem de inovar no que toca à retroatividade das leis.