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O estoiro dos millennials

O estoiro dos millennials

Em Portugal, os millennials vivem em perpétua corrida académica, sem casa própria (só arrendada, e a preços do Dubai para Lisboa ou Porto), sem poupanças e desprovidos de qualquer tipo de estabilidade laboral

A maioria dos portugueses acima dos 50 anos, quando questionada sobre a geração dos seus filhos e sobrinhos, responderá que, apesar dos problemas complexos de globalização e pós-modernidade, os millennials tiveram, e têm, a vida mais facilitada do que eles alguma vez tiveram. Afinal, os homens e as mulheres hoje entre os 18 e os 35 anos cresceram com o largo apoio dos pais, um nível de conforto, liberdade e cuidados de saúde únicos desde a Revolução Agrícola, há 15 mil anos, e um acesso tecnológico que facilita tudo: comunicação, mobilidade, emprego, sexo.

A propósito deste equívoco, Michael Hobbes escreveu no Huffington Post que a também denominada Geração Y (será um Y de Yes We Can't?) sofreu durante anos da má fama de escolhas laxistas e de gastar dinheiro que não tinha em coisas de que não precisava.

Em Portugal, os millennials vivem em perpétua corrida académica, sem casa própria (só arrendada, e a preços do Dubai para Lisboa ou Porto), sem poupanças e desprovidos de qualquer tipo de estabilidade laboral. Sofrem do problema acrescido de trabalhar no País com pior índice de qualidade de vida da Europa a 28 (após a inevitável Grécia), onde o salário médio é inferior a mil euros, quase 75% do meio milhão de empregos criados nos últimos cinco anos vale menos de 900 euros/mês e a desigualdade tornou-se irrecuperável (no topo da pirâmide do sector privado, as empresas cotadas em bolsa, o salário médio dos administradores é 46 vezes superior ao dos trabalhadores).

Para ajudar à festa, a função pública, que sustenta um terço da Nação, é uma Disneylândia de justiça social e segurança no emprego, com privilégios contratuais mais próximos de Oslo ou Copenhaga do que de Odeceixe ou Coina.

A única esperança é que o futuro político dos millennials seja gerido por eles próprios. Mas, para isso, terão de contrariar as ideias feitas, desgrudar o rosto do smartphone e votar.

Santos e ...
A santíssima trindade do futebol português deveria agradecer aos deuses. Pinto da Costa, esse exemplo de boas práticas desde 1977, por não ter de esperar até aos 100 anos no trono azul e branco sem nova vitória. Bruno de Carvalho, por se manter presidente até anteontem (com o sobrinho-neto de Pinheiro de Azevedo, tudo é possível) apesar de ter transformado quase sozinho o SCP num episódio mau de A Guerra dos Tronos. Vieira, pela imagem de semivencedor com o apuramento para a terceira pré-eliminatória da Champions - e 40 milhões de euros no horizonte - enquanto se prepara para mais deslocações ao tribunal do que o ex-motorista de Sócrates.

... Pecadores
Depois de a Justiça salvar milagrosamente a política no caso Manuel Vicente, António Costa e Marcelo atropelaram-se em suspiros de alívio ("desapareceu o irritante") com a pedra angolana no sapato português de súbito lançada ao Atlântico pelo Tribunal da Relação de Lisboa. O ministro da Defesa, já em Luanda, anunciou que "a amizade não é perturbada por pequenos acidentes". Pelo prodígio de realpolitik, o trio deveria levar com um pedregulho no cocuruto democrático.

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