visao.sapo.ptMargarida Vieitez - 22 mai. 12:04

Pare de dar pérolas a quem só lhe dá... porcos!

Pare de dar pérolas a quem só lhe dá... porcos!

Muitas pessoas, por mais que tente, mais voltas dê, mais cores se pinte, mais repita e invente…nunca o vão querer conhecer e muito menos conseguir valorizar o que lhes dá

Coloque uma pérola, um brilhante, rubi ou esmeralda no chão e chame o seu cão ou gato. Se não os tiver, imagine, simplesmente, o que farão? É pouco provável que se interessem ou que fiquem entusiasmados, e mesmo que brinquem um pouco, rapidamente irão perder o interesse.

. A razão é simples: Elas não estão interessadas em conhecê-lo e não estão interessadas em admitir que lhes dá alguma coisa, muito menos o que elas não conseguem dar.

Para elas, as suas emoções, sentimentos, necessidades, fragilidades, ansiedades, angustias, medos, desejos, interesses, sonhos mais queridos, o que é importante para si, não existe, e se existe, chateia-os! E, por cada chatice, dão-lhe um porco (um problema deles!) e dizem-lhe para cuidar dele no seu lugar. Ou nem isso, viram costas, desaparecem e nada dizem!

E o que você pensa? Que as boas pessoas têm sempre de estar disponíveis e ajudar as outras. E assim, insiste em saber delas, em cuidar delas e dos porcos delas, e esquece-se de si!

Quanto mais depressa aceitar que esta é a realidade, menor perigo corre, melhor gere a indiferença e melhor sabe o que fazer com os porcos que elas teimam em dar-lhe para cuidar no seu lugar. Grandes, médios, pequenos… podem terem as mais diversas dimensões, e ter ainda, muitos filhos.

Sabe porque essas pessoas o ignoram e algumas teimam em dar-lhe os seus porcos para tratar?

A razão é simples: Porque o foco dessas pessoas é apenas um: elas próprias! E, cada problema que têm, representa um porco. Então quantos menos tiverem e mais despacharem, melhor!

Só elas existem na sua “bolha” de egoísmo e egocentrismo;

Só elas têm problemas, só elas têm responsabilidades e compromissos;

Só elas são importantes, trabalham, têm o direito a estar chateadas, frustradas, stressadas, esgotadas…

Só elas têm razão, sono, dores de cabeça e de costas, são vítimas dos outros e do sistema, lutam, são corajosas, são amigas, amam…

Só elas dão porcos aos outros para cuidarem. Dos seus porcos e delas!

E do outro lado, quem está? Aqueles que continuam a acreditar que precisam fazê-lo, a teimar, a persistir, a nunca desistir, ainda que as desilusões se sucedam em cascata, nunca as suficientes para abrir mão das ilusões que um dia a sua mente criou, apesar da instabilidade, tristeza, angustia, ansiedade, do sentimento de nunca nada ser suficiente, de não estar à altura de uma imaginária Torre Eiffel, que à semelhança da real, possui centenas de degraus, que vão subindo dia a dia, na esperança, não de ver uma vista ainda mais deslumbrante, mas de viver um Amor ainda mais fascinante. No topo, cem, duzentos, trezentos… porcos… à espera de ser cuidados, que representam nada mais, nada menos, do que os interesses de quem lhos deu.

Acompanho-os e estou cansada de ver os seus rostos tristes e deprimidos, na busca de tesouros de afeto em desertos emocionais e sentimentais onde não existe um único oásis. De vê-los a cuidar de quem não cuida, a preocupar-se com quem não está nem ai, a amar quem nem sequer consegue sentir a sua existência. Quem despeja o seu egoísmo, em vez de dar Amor!

Desculpem-me, mas tenho o dever de escrever sobre estes temas, uma, e outra vez, e de “gritar” bem alto: os portões das prisões mentais onde se encontram estão abertos! Do lado de fora existe Sol e pessoas que sabem ser amigas, namorados, companheiros… e que têm espaço para si dentro delas, que não são egoístas nem egocêntricas, que o sabem valorizar, aceitar, merecer e Amar.

Acredite! Não precisa de o aceitar! Estar só é incomparavelmente mais saudável a nível mental e físico do que ter uma pessoa na sua vida para quem você não existe, ou só existe quando tem porcos para cuidar, quando a vida ou os outros, lhe dão um pontapé e os ensinam ou talvez não!

Todas as pessoas que lhe dão “porcos para cuidar” veem um filme em sessões contínuas, cujo título é “Só eu”!

Tudo o que os outros possam pensar, sentir ou querer, passa-lhes ao lado! Sabe porquê? Porque o seu mundo é pequenino demais e só tem espaço para eles próprios. Quando tenta “entrar” no mundo deles e encontrar um espaço para si, contorcendo-se, fazendo mil malabarismos para conseguir entrar, descobre que esse espaço que eles o fizeram acreditar que existia, na realidade não existe.

Então, pode começar por ficar apenas com a cabeça dentro da “bolha” e com o resto do corpo de fora, esperando pelo momento em que eles vão libertar algum espaço para si.

Com o passar dos dias, começa a perceber que esse espaço não surge, ou surge, mas logo desaparece, e então pode cair na tentação de começar a sensibilizar essa pessoa e a pedir-lhe para se chegar um bocadinho para lá e o deixar entrar; a tentar perceber porque ela precisa de tanto espaço; a tentar demonstrar-lhe que vão ser os dois mais felizes quando ela começar a olhar para si, quando deixar de pensar tanto nela, quando se surpreenderem, quando conversarem sobre os dois, quando dormirem os dois de mãos dadas, quando a/o escutar também, quando lhe perguntar como se sente, quando olhar para si e vir o Amor que tem para lhe dar. Esta é a segunda fase! Acreditar que o seu gato ou cão vão realmente interessar-se por pérolas ou brilhantes, e deixar para trás os seus brinquedos favoritos!

Depois da segunda, segue-se a terceira fase: esta é a fase do dar tudo por tudo, fazer tudo, inventar tudo, ou talvez, a de negar tudo o que não aconteceu e devia ter acontecido, e continuar a insistir. Agora, de uma outra forma: pegando nas pérolas e colocando à frente do seu nariz a ver o que acontece! E por cada uma, recebe mais um porco!

E não é que nada muda! Parecem olhar estupefactos para todas elas, sem saber o que fazer! Alguns nada dizem, outros respondem que têm sono, que estão cheios de problemas, a fazer um trabalho muito importante, sem rede, sem tempo, sem vida, ou fartos do bábláblá…

Quarta fase: A fase do desespero! Quero entrar! Gosto dela/dela! O que tenho de errado? O que faço mal? O problema é meu? Não sou/dou o suficiente? Tenho de fazer mais!

E aqui começa o grande perigo! Sabe qual? O de você começar a acreditar que está nas suas mãos fazer a outra pessoa ver que aquilo que lhe está a dar são pérolas ou rubis, que ela não está a conseguir vê-los e que precisa vê-los de qualquer maneira pois disso depende a felicidade dela.

Mas, será que não é você que está a fazer depender a sua felicidade dessa visão?

Já se perguntou porque é que precisa de aceitar o desafio de se contorcer para entrar na bolha de alguém que quer o espaço só para ela?

Porque precisa de provar a si próprio que é capaz de mudar essa pessoa?

Porque precisa de abrir os olhos dessa pessoa quando ela não os quer abrir?

Acha mesmo que é possível conseguir que alguém que não o consegue ver nem amar, passe a ver e a amar pelo seu esforço?

Não estará a aceitar cuidar dos seus porcos em troca de bem querer e de Amor? Porquê?

Quinta fase: Essa sua fantasia pode custar-lhe muito cara! Pode custar-lhe a sua autoconfiança, a sua autoestima, fazê-lo entrar numa espiral autodestrutiva e colocar em risco o seu bem-estar emocional.

Pior ainda quando do outro lado existe alguém que, ora alimenta intensamente essa sua fantasia, ora “sai de cena”, alguém que o chama de amigo/a e ao mesmo tempo fá-lo acreditar que existe algo mais, e que anda ininterruptamente de cá para lá, alguém que só lhe telefona quando está em sarilhos, quer sair uma noite, só fala de si ou o deixa a falar sozinho/a, alguém que se mostra apaixonado e logo a seguir mais frio que um iceberg, deixando-o sem saber o que pensar nem fazer, gerando a maior das confusões na sua cabeça.

O alerta que eu quero lhe deixar é o seguinte: O Amor não é nada disto!

Podem até tentar convencê-lo que é, porque lhes dá jeito que cuide de alguns dos seus problemas que dão mais trabalho.

Não acredite em mentiras!

Quem gosta mesmo de si, tem espaço dentro de si, para si! Não finge ter, ou tem só de vez em quando. Não lhe dá ordem de despejo do seu coração e logo a seguir afirma que está e sempre esteve nele. Muito menos confunde pérolas com porcos!

Quem gosta mesmo de si, está hoje, amanhã, depois de amanhã, não finge estar quando lhe dá jeito. Seja amigo, seja Amor!

Quem gosta mesmo de si, preocupa-se, apoia, escuta-o, demonstra verdadeiro interesse por si e por aquilo que acontece na sua vida de forma genuína, não interesseira.

Quem gosta mesmo de si, não gosta de si aos soluços, num vaivém de emoções que o fazem sentir uma brutal insegurança quando não quase enlouquecer.

Quem gosta mesmo de si, não o faz sentir desesperado sem saber o que pensar, sentir e fazer, com medo de errar, de dizer ou fazer algo mal.

Quem gosta mesmo de si, não lhe vai fazer sentir necessidade de provar quem é, e provar todo o Amor que tem para lhe dar.

Sabe Porquê?

Porque essa pessoa especial vai conseguir Ver a sua Essência e Ver o Amor que tem no seu coração.

Tudo o resto é egoísmo, egocentrismo, migalhas, desamor, doença mental!

Um perigo para a sua estabilidade emocional e psicológica.

Não assuma o papel de salvador/a, de psicólogo, de mãe ou de pai, ou cuidador dos porcos dos outros, pois não o vão valorizar, reconhecer ou amar mais por isso. Vai acontecer exatamente o oposto.

Pare de dar Pérolas e de Cuidar de quem se está nas tintas para si!

Por si!

No meu Novo Livro “Perigo! Duas Caras” poderá ler este tema mais desenvolvido.

www.margaridavieitez.com

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