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Opinião. O elogio da polémica

Opinião. O elogio da polémica

Para conceber uma canção há que ter em conta que ela deve ter algo pedagogicamente necessário para a cultura ou para a defesa das causas públicas e, também, uma dose de polémica, porque esta é presentemente a variável mais importante em jogo.

Uma semana depois da final do Festival Eurovisão da Canção, os olhos que estiveram atentos a Portugal estão agora virados para Israel. A canção vencedora em Lisboa é inédita, alegre, mensageira e polémica e levou o troféu para fora da Europa, permitindo uma organização em volta da qual a controvérsia também já existe.

Se a essência do Festival da Eurovisão é uma canção, então, quanto vale e o que mais importa em si? Esse valor está muito para além da concepção artística, pelos impactos socioeconómicos e políticos, detectados desde sempre na história deste concurso e confirmados neste ano. Um concurso prossupõe, sempre, uma pontuação e uma escolha, e uma canção é um valor importante na pedagogia, na cultura, na economia e na política.

A música ultrapassa em muito um produto meramente sonoro, deve ser entendida e transmitida como um comportamento expressivo e envolvendo múltiplos referenciais, desde o linguístico ao estético. Os princípios da pedagogia musical referem que a música é um elemento importante na construção de olhares e sentidos, entre razão e intuição, racionalidade e emoção, simplicidade e complexidade, entre passado, presente e futuro. Há expressões, sentimentos, ideias e estados de alma cuja expressão principal é feita através da música, nas suas componentes de expressão verbal, expressão musical e expressão corporal, que são partes de uma pedagogia e de uma cultura, mesmo que a vitória não se concretize na Eurovisão.

Mas a vitória de uma canção é um desafio de gestão financeira e de parcerias, na realização do evento pelo país de origem, que podem transformar os custos organizativos em custos de oportunidade. Devido à difusão televisiva e à presença de imprensa de todo o mundo, as mais-valias reflectem-se no acréscimo de turistas, no negócio na hotelaria, na restauração e no comércio, nas receitas de bilheteira, na compra de direitos de transmissão dos espectáculos e, enfim, nas possibilidades futuras para a economia. Foi isto que se esperou como impactos para a cidade de Lisboa, a trabalhar agora pela televisão israelita.

Uma canção é, assim, vista como valor estratégico. E, portanto, com interesse cultural e económico e desejavelmente pensada para conquistar empatia e público. Pelo que estamos no tempo em que se deve começar a pensar no próximo ano, por parte da RTP, com a desejável maior abertura aos criadores, e por parte destes, que devem ter a noção de que para conceber uma canção há que ter em conta que ela deve ter algo pedagogicamente necessário para a cultura ou para a defesa das causas públicas e, também, uma dose de polémica, porque esta é presentemente a variável mais importante em jogo.

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