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Media. “É Apenas Fumaça” ganha bolsa de 80 mil euros de apoio ao jornalismo independente

Media. “É Apenas Fumaça” ganha bolsa de 80 mil euros de apoio ao jornalismo independente

O projecto de media foi fundado em 2016 para debater temas de política e questões sociais. Já lançou 120 episódios e edita um podcast que supera as 250 mil audições.

É Apenas Fumaça ganhou uma bolsa no valor de 80 mil euros de apoio ao jornalismo independente, concedida pela Open Society Foundations – uma rede mundial de mais de 20 fundações que financia projectos e organizações que promovam a justiça, a educação, a saúde pública ou jornalismo independente –, anunciou, nesta quinta-feira, em comunicado.

O projecto jornalístico online, independente de financiamento privado, nasceu com o objectivo de escrutinar a democracia, questionar as decisões políticas de quem é nomeado ou se faz eleger, e dar voz a representantes e representados – especialmente às camadas da população que menos a expressam. 

O fundo permitirá iniciar novos formatos e contratar profissionalmente parte da equipa, assim como possibilitar a formalização oficial como órgão de comunicação social. "Este financiamento vai permitir-nos continuar a fazer jornalismo independente, progressista e dissidente. Vamos criar uma redacção, trabalhar a tempo inteiro, com condições laborais dignas e sem precariedade. O nosso trabalho jornalístico vai expandir-se para outros formatos, como reportagens, áudio-documentários, artigos de opinião e um telejornal semanal. O site também vai ser totalmente renovado", disse em comunicado de imprensa Ricardo Ribeiro, jornalista e co-fundador do É Apenas Fumaça.

Contactado pelo PÚBLICO, Ricardo Ribeiro acrescenta que a prioridade de investimento do dinheiro "será para pagar salários" e que irão contratar quatro pessoas – duas em full time e duas a tempo parcial. No entanto, os colaboradores que contribuíram até aqui não deixarão de o fazer. Outro dos objectivos passa por investir em reportagens e, mais especificamente, em conteúdo de vídeo – até agora, as reportagens são essencialmente em áudio. Para além disso, a equipa pretende realizar entrevistas a vários representantes eleitos, sendo que a entrevista ao antigo primeiro-ministro José Sócrates foi um primeiro passo.

Destacando a importância que a transparência tem para a equipa, Maria Almeida, co-fundadora do projecto, anuncia que irão "tornar público o contrato assinado com a Open Society Foundations, bem como os nomes de todas as pessoas que até hoje contribuíram com o seu dinheiro" e explica, em comunicado, que o fundo será um ponto de partida que vai permitir "montar uma estrutura" mas afirma que "é na criação de um público que nos ajude regularmente e nos permita ser sustentáveis" que apostam. "O mais importante é manter a independência. Não temos publicidade e até agora só recebíamos donativos dos nossos ouvintes, leitores e espectadores. Candidatamo-nos ao fundo da Open Society Foundations por sabermos que não haveria qualquer interferência editorial", acrescentou Pedro Santos, jornalista da equipa, no comunicado. As informações sobre a gestão do financiamento estão disponíveis para consulta pública no site, pelo que qualquer pessoa poderá saber como o dinheiro da bolsa será aplicado, nomeadamente, que percentagem será destinada ao pagamento de salários, impostos ao Estado, compra de material técnico ou despesas em reportagem.

"O povo é sereno, é apenas fumaça"

O É Apenas Fumaça edita um podcast que supera as 250 mil audições. Abrange temas como os direitos humanos, o racismo, a imigração, a discriminação, a educação, o feminismo, questões LGBT, o ambiente, a religião ou a memória histórica. Nos últimos meses, alargou o repertório e começou a produzir reportagens. Está ainda agendado o lançamento de uma áudio-série documental, de vários episódios, gravada na Palestina. Quanto à iniciativa, o co-fundador do projecto jornalístico, Ricardo Ribeiro, explicou ao PÚBLICO que costumavam ler e ver trabalhos de outros projectos de jornalismo independente noutros países, pelo que decidiram que "era preciso fazer algo igual" e que abordasse as mesmas questões, em Portugal.

Já o nome É Apenas Fumaça nasceu de um brainstorming – face à pressão inicial de já terem entrevistas marcadas mas ainda sem nome para o projecto – e está relacionado com a discussão pública. A expressão "É Apenas Fumaça" foi preconizada pelo primeiro-ministro do VI Governo Provisório, José Pinheiro de Azevedo, em 1975, durante um discurso no Terreiro do Paço, quando surgiu um fumo no meio da multidão como uma espécie de manifestação por parte dos opositores políticos (provavelmente proveniente da queima de bandeiras). Foi então que Pinheiro de Azevedo disse "O povo é sereno, não tem perigo... É apenas fumaça". Assim, explica ao PÚBLICO Ricardo Ribeiro, nasceu o projecto jornalístico que pretende questionar "se o povo é [efectivamente] sereno ou não" e escrutinar "além da fumaça".

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