www.sabado.ptFlash - 18 mar. 01:00

O congresso da ambição máxima

O congresso da ambição máxima

Contratar um antigo primeiro-ministro para um cargo de docência numa universidade é uma prática comum em todo o mundo. No caso de Passos Coelho é naturalmente justificado com base na sua experiência

O CDS fez o seu Congresso e entronizou Cristas. De um modo geral foi tudo bem feito, e Cristas levava para o Congresso o seu resultado de Lisboa, que lhe dava a legitimidade mais difícil de obter em democracia, a do voto. Transformou assim a sua vitória pessoal numa candidatura numa vitória em Congresso, varrendo as oposições que, com excepção de Filipe Lobo d’Ávila, se lhe vergaram. Enterrou Portas no seu cantinho, mas Portas também se tinha posto a jeito pela sua carreira de lobista tão venal que, se houver um pingo de honra em qualquer partido, não voltará à vida política. Mas sei lá…

Mas, uma coisa é um Congresso que correu bem e a consolidação da sua líder, outra é resolver o problema político que a "ambição máxima" não resolve: o CDS é um pequeno partido, cujos resultados são próximos do Bloco e do PCP, mas que para crescer de forma "ambiciosa" tinha que corroer a posição do PSD, o que não é fácil e, acima de tudo, não está a acontecer ao nível nacional. Seria bom que o CDS ficasse sozinho à direita, mas ainda não está porque o PSD ainda não se livrou do lastro do passismo e também permanece por lá mais do que devia.

E quando eu digo que seria bom que lá ficasse sozinho é porque não é líquido que a direita tenha assim tantos votos como isso. A táctica em que o PSD se deixou capturar nos últimos anos foi a de uma frente de direita versus esquerda, e aí, até ao advento da geringonça, o lado esquerdo não era verdadeiramente uma frente. Acabando esse frentismo, reconstruindo-se o PSD ao centro, entre a esquerda e a direita, e podendo – insisto, podendo – recolher o voto moderado em competição com o PS, a direita fica exposta à sua fragilidade e isso significa que o CDS manterá sérios limites ao seu crescimento.

Além do mais se o CDS ficar sozinho à direita, tenderá a radicalizar -se nessa área para tentar queimar terreno ao PSD, e isso não dá votos. Por isso, a "ambição máxima" do CDS não depende dele, mas depende do PSD, pode ser que sim, pode ser que não. Ainda é cedo para se saber. 

A contratação de Passos Coelho

Contratar um antigo primeiro-ministro para um cargo de docência numa universidade é uma prática comum em todo o mundo. No caso de Passos Coelho é naturalmente justificado que tenha sido contratado com base na sua experiência de primeiro-ministro, ainda por cima durante um longo período de tempo e em circunstâncias especiais da vida nacional com a intervenção da troika. Mal ou bem, independentemente do julgamento que se possa ter sobre a sua "obra", ela compreende um património de experiência que, caso ele tenha qualidades de comunicação ao nível de um público que deveria ser muito exigente (mas que sabemos que normalmente não o é), cabe no âmbito de uma universidade. Por isso, acho natural a sua contratação.

Mas se isto está bem, tudo o resto está mal: a forma, saber se os procedimentos foram seguidos (é suposto haver relatórios propondo-o), o título atribuído, a fórmula contratual, são completamente errados e abrem um precedente de favoritismo e de excesso que só pode resultar de simpatias políticas. Mas aqui a culpa é da universidade e não de Passos Coelho. 

A degradação dos serviços dos correios

Na semana passada os correios traziam-me uma encomenda. Quando passaram não estava ninguém em casa, pelo que deixaram um aviso. Até aqui o que se passou parece normal. Só que olhando para o aviso, verifico que o local onde está depositada a encomenda não é o habitual, o posto que funciona na Junta de Freguesia a 200 metros, mas a cerca de 20 quilómetros de distância. E vejo mais: o número de dias úteis em que a encomenda lá se encontra é muito pequeno, e os horários da estação obrigam a lá ir em pleno horário de trabalho ou cortando ou a manhã ou a tarde.

Ou seja, a probabilidade de recolher a encomenda sem custos consideráveis em tempo e em dinheiro para deslocação é grande. O que é grave é que nada disto acontecia antes, mas acontece agora depois da privatização dos correios. Ao mesmo tempo, soubemos que a distribuição dos lucros aos accionistas duplicou e é já há mais de um ano superior aos resultados. Não há melhor propaganda contra a privatização e a favor da nacionalização, mas acima de tudo é um desaforo num País em que o pouco que funcionava bem, anda para trás perante a indiferença dos grandes indignados da interioridade e dos seus custos.

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