www.dinheirovivo.ptNuno Serafim - 17 mar. 14:40

Opinião. Show must go on!

Opinião. Show must go on!

A opinião de Nuno Serafim da IM Gestão de Ativos

Quando a política intromete-se na economia, normalmente, as coisas tendem a não resultar bem. A motivação de Trump para impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio, de 25 e 10%, respetivamente, apesar de travestirem um racional económico têm, na verdade, muito mais de político do que qualquer outra motivação.

As tarifas sobre produtos importados, que recorde-se começaram pelas máquinas de lavar e painéis solares, é baseada na construção da narrativa do American First que valeu a eleição de Trump em novembro de 2016, mas que entretanto já causou baixas na Casa Branca, nomeadamente a saída de Gary Cohn, o principal conselheiro económico de Trump, um típico moderado e defensor do comércio livre e que acabou por ser substituído por Peter Navarro, um defensor de uma abordagem protecionista e anti-China.

O caráter profundamente político desta linha económica tem como enquadramento as midterm elections, que ocorrerão em novembro deste ano e que representam a primeira avaliação desta administração. Nessas eleições, estarão em disputa 34 dos 100 lugares no Senado e a totalidade dos assentos na Câmara dos Representantes. As taxas de aprovação de Trump não são brilhantes aos dias de hoje e apontam para a perda da maioria republicana nas duas Câmaras.

Ao impor tarifas cirúrgicas, Trump passa uma mensagem externa e já vamos falar dela, mas sobretudo uma mensagem interna, para estados como a Pensilvânia, Ohio, Wisconsin, Indiana e Michigam, precisamente aqueles que mais foram afetados pelo desmantelamento da indústria de aço e alumínio nos EUA em face da concorrência externa.

Ocorre que estes Estados são também conhecidos como os “swing states”, ou seja aqueles que não tendo uma marcada tendência Democrata ou Republicana acabam por definir o vencedor. Trump foi especialmente bem-sucedido nestes Estados, tendo arrebatado surpreendentemente todos eles. Para que se volte a repetir será importante para Trump manter a ilusão viva que os postos de trabalho perdidos vão regressar, criando condições para o regresso destas indústrias aos EUA.

Mas o feedback externo foi também ele muito politizado. Jean Claude Juncker falou em nome da União Europeia (EU), até agora o bloco económico mais audível nesta guerra, prometendo uma retaliação. Uma retaliação é precisamente aquilo que os mercados não querem ouvir falar, pois uma escalada de medidas protecionistas poderá afetar seriamente o comércio global, com consequências nefastas para o crescimento económico.

Curiosamente, a UE propôs-se tarifar marcas como a Levis e Harley Davidson e produtos como o bourbon. Sem dúvida símbolos americanos, mas cuja origem de fabricação, por acaso, são alguns dos “swing states” mencionados acima.

Não é a primeira vez que um Presidente norte-americano impõe este tipo de tarifas. Nixon e Carter fizeram o mesmo nos anos 70 e Bush em 2002 determinou exatamente as mesmas tarifas sobre exatamente os mesmos produtos. Porém, 18 meses depois a medida foi revertida após ter resultado numa perda líquida de 200 mil postos de trabalho. Se o efeito será o mesmo desta vez, não sabemos, mas tudo aponta que estamos apenas e só no domínio da “real politik”.

Resta saber se a China mantém a postura cool as ice ou se junta a uma guerra comercial que pode pôr em causa um dos períodos de expansão económica mais longos da história. Tendo todos mais a perder do que a ganhar acabamos como iniciámos: ”show must go on”.

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