sol.sapo.ptVítor Rainho - 17 mar. 12:45

Mourinho e os políticos que se julgam deuses

Mourinho e os políticos que se julgam deuses

Mourinho esquece-se de que depois de sair do Real Madrid Zidane ganhou duas Ligas dos Campeões.

A história é recorrente. Quando as coisas correm bem, mas mesmo bem, as pessoas tendem a acreditar que será assim para sempre e não conseguem sequer imaginar outro cenário. Quantos primeiros-ministros ou Presidentes da República ou de câmara, empresários, banqueiros ou desportistas não julgaram que estavam a ‘fundir-se com Deus’ e que eram intocáveis? João Soares, na Câmara de Lisboa, Ricardo Salgado na banca ou Maradona no futebol são apenas três exemplos mais gritantes. Mas foram muitos os que assim pensaram. Continuando no futebol, José Mourinho é um homem que chegou ao topo do mundo futebolístico com uma equipa de operários que conquistou a Taça UEFA, então assim designada, e a Liga dos Campeões com praticamente os mesmos dragões. Depois foi para Inglaterra, onde se autointitulou o ‘special one’, tendo no primeiro ano ganho o campeonato inglês com uma equipa milionária mas que não vencia nada há muitos anos. 

O sucesso continuou por terras italianas, onde foi de novo campeão europeu de clubes com oInter de Milão, tendo rumado depois para oReal Madrid onde conseguiu um título caseiro, embora com um sabor muito especial pois interrompeu uma série vitoriosa de uma das melhores equipas de sempre, o Barcelona de Pep Guardiola. Seguiu-se o regresso ao Chelsea, onde ganhou mais um campeonato nacional, tendo depois sido despedido por, alegadamente, estar incompatibilizado com os principais jogadores. Desde então, Mourinho perdeu a sua fama de ‘Special One’ e os insucessos são muito maiores que o sucesso.

Curiosamente, tem ganho competições que gostava de apelidar de secundárias e que eram boas para as segundas linhas. Quem não se recorda deMourinho dizer que a Liga Europa, antiga Taça UEFA, era pouco estimulante? E o que dizia das supertaças e taças nacionais?

Se no ano passado ficou muito longe do campeão de Inglaterra, este ano, com o investimento brutal que fez, seria de esperar que o Machester United pudesse lutar até ao fim pelas competições em que entrou.Mas não. No campeonato está a quilómetros do City, a outra equipa da cidade, treinada pelo seu rival Pep Guardiola, e na Liga dos Campeões, foi afastado pelo Sevilha, um clube que luta pelo quarto ou quinto lugar na Liga espanhola, e que está a 27 pontos do líder Barcelona.

E o que disse Mourinho depois de ter sido afastado? Que os treinadores antes dele fizeram pior e que por onde passou andou sempre à frente. Mourinho devia ter mais respeito pela história e saber que depois da sua saída do Real Madrid, por exemplo, Zidane ganhou duas Ligas dos Campeões, além de ter sido campeão nacional.

Diz-se que Maradona se tramou quando achou que era Deus, já que tudo lhe era permitido. Mourinho ainda não percebeu que já não é Deus e que deve usar uma estratégia diferente para voltar a ter sucesso. Julgar-se a estrela mais importante da companhia não o vai levar a lugar algum. É dos livros, como dizia o outro.

E o que se passa com Mourinho, como eu dizia no início da crónica, passa-se com muitos políticos. Quem diria que Cavaco Silva depois de duas maiorias absolutas acabaria por sair do Governo pela porta pequena? Aqueles que agora olham para os outros com soberba um dia perceberão que o sucesso é efémero e que é muito mais difícil alcançá-lo do que o insucesso. A descer todos os santos ajudam.

vitor.rainho@sol.pt

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