sol.sapo.ptEduardo Ferreira - 17 mar. 11:33

Capacidade de liderança

Capacidade de liderança

Há alguns anos, no metro de Roma, vi um cartaz publicitário engraçado, de uma empresa de trabalho temporário. Até o meu italiano básico foi suficiente para compreender o que estava lá escrito.

O cartaz tinha como protagonistas dois personagens de banda desenhada, o cão Dogbert e o seu dono, Wally. Este último perguntava a Dogbert “O que deverei fazer para tornar o meu Curriculum mais interessante?”, ao que o cão respondia: “Mentir.”

É natural que este cartaz provocasse, hoje, apenas alguns sorrisos amarelos no PSD. Pois, ao que parece, o secretário-geral desse partido, Feliciano Barreiras Duarte, não terá sido totalmente exato na elaboração do seu próprio CV, tendo referido que era “Visiting Scholar” na importante Universidade da Califórnia, em Berkeley, o que não se confirmou. Visto o desconforto que esta situação provoca na direção do PSD, a demissão de Barreiras Duarte deverá estar iminente. 

Tal como não existem vidas perfeitas, não devem existir CV’s perfeitos. O meu, por exemplo, mostra longos períodos em que estive no desemprego. Seria inicialmente mais fácil para mim mentir, e afirmar que estive sempre a trabalhar. Porque é que não o faço? Para não afetar a minha credibilidade, nem a minha capacidade de liderança. Porque, quando mentimos, sobretudo se o fizermos de forma descarada e frequente, as mentiras, mais cedo ou mais tarde, são detetadas pelos nossos interlocutores, que deixam de confiar em nós, e que por isso jamais nos seguirão para lugar algum. Isto é, as mentiras destroem a nossa capacidade de liderança. Foi esta importante lição que Barreiras Duarte desconhecia, e que, ao que tudo indica, lhe custará o lugar de secretário-geral do PSD.

Quem sai reforçado com este episódio? Logicamente, Rui Rio. Ao forçar a demissão do seu recém-nomeado secretário-geral, Rio demonstra que a sua ambição de forçar um “banho de ética” na política portuguesa é para levar a sério. E prova, se dúvidas houvesse, que é um verdadeiro líder. Tomou a decisão difícil de abdicar da colaboração de um dos seus mais próximos apoiantes, mas essa escolha deixa-o com as mãos livres para escolher um novo secretário-geral cujas noções de ética não sejam questionáveis.

Penso que Rui Rio sabe que, frequentemente, as decisões com maiores custos imediatos são as que nos renderão maiores dividendos no futuro. Ao contrário do quase demissionário secretário-geral do PSD, Rui Rio demonstrou, mais uma vez, que tem uma forte capacidade de liderança. E é de líderes assim que os partidos políticos portugueses precisam.

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