Rio precisava esclarecer duas coisas. A primeira tinha a ver com a posição do partido diante de um PS que não quer a "mão" do PSD. A segunda, com o pessoal partidário que o ia acompanhar, uma vez que herda o maior grupo parlamentar da Assembleia da República, a frente por excelência do combate político contra a "muralha de aço" que protege Costa. Rio foi medianamente claro quanto ao primeiro aspecto. Está lá para ganhar todas as eleições - autárquicas, regionais e legislativas por esta ordem - "contra" o PS. Mas também está lá para embarcar, uma vez mais, na eterna falácia dos "pactos de regime" que, volta não volta, são convocados para salvar uma pátria irreformável. Parece-me, todavia, que a história do regime é bem clara. Só houve reformas dignas desse nome em três ocasiões: com o primeiro Governo Constitucional de Soares por causa da democracia, com os governos de Cavaco por causa da Europa e com Passos Coelho devido à troika e a ministros como Álvaro Santos Pereira (economia e trabalho) ou Paula Teixeira da Cruz (PGR e mapa judiciário em que o actual Governo não tocou a não ser para pôr duas ou três cadeiras nuns espaços que reabriu e a que abusivamente apelidou de "tribunais"). O resto têm sido arranjos tácticos, ora para a fotografia, ora para a propedêutica "estadista" de líderes imaturos, e revisões constitucionais pontuais. Costa com certeza não se importará, até para celebrar a remoção de Passos, de partilhar sofás com Rio sob o olhar paternalista de Marcelo. Como as eleições já fervem, é só disso que se trata, de uma boa selfie. Para isto, Rio procurou a "unidade" na FIL de Lisboa, entrando e saindo de braço dado com Santana Lopes. Não com as hostes e as "ideias" de Lopes, mas com ele individualmente considerado. As listas conjuntas ganharam mas ficaram em minoria depois da habitual pornografia do "toma lá dá cá lugares". A direcção, entre o medíocre e o inócuo salvo o preguiçoso Sarmento, passou com centenas de votos brancos e nulos. Por ter estado perto dele enquanto governante, abstenho-me de comentar o novo secretário-geral. Rio tem, pois, o programa e a gente que quis ter. E as cumplicidades que, contra a lógica conflitual do debate político, apareceram. O congresso terminou com Luís Montenegro. E ressuscitou quando apareceu Elina Fraga, a "bastonária intersindical" que processou o Governo PSD/CDS por alegado atentado ao Estado de direito, a ornamentar uma vice-presidência de Rio. Não sabia que o PSD era o partido de Elina. E vice-versa.