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PSD - Vencedores, vencidos ou nem por isso

PSD - Vencedores, vencidos ou nem por isso

Rui Rio tem no núcleo duro do partido quatro homens e duas mulheres da sua inteira confiança, como seria de esperar.

Todos eles têm competência para o ajudar nas batalhas que quer travar, mesmo as que são em nome dos consensos com o PS.

Mas também tem de contar com todos os que, por agora, saem de cena. Alguns ficarão mesmo na sombra à espera de melhores dias e de outras lideranças. Outros a fazer contas à sua própria hora, como é o caso de Luís Montenegro, o único dos críticos que, em pleno congresso, assumiu preto no branco que se um dia decidir avançar para a liderança não deve explicações a ninguém.

Fernando Negrão
Grande peso nos ombros

Se for eleito - e já lá vamos -, Fernando Negrão tem sobre ele uma das maiores tarefas nesta nova fase da vida do PSD. O facto de o novo líder do partido não ser deputado coloca-lhe sobre os ombros a responsabilidade da oposição no Parlamento, o que não é coisa pouca porque enfrentar António Costa de 15 em 15 dias obriga a muito traquejo político. Negrão diz que o tem de sobra dos anos que já leva de deputado e até foi elogiado na condução dos difíceis trabalhos da comissão de inquérito ao BES. É ele que irá tentar desmontar em São Bento a ideia de que o governo está a fazer um bom trabalho, mas também terá de gerir os dossiês que ficaram pendentes à espera da eleição de Rio: a lei de financiamento dos partidos e o pacote da transparência. Tudo isto no pressuposto de que quinta-feira, dia 22, o grupo parlamentar o elege (tudo o indica). A sua força será tanto maior quanto lha derem os pares, ainda muito descontentes com o afastamento de Hugo Soares.

Morais Sarmento
O estratega político

Esteve com Rui Rio desde a primeira hora e foi um dos mais ativos na campanha que fez à liderança do PSD. Basta lembrar que foi um dos presentes no jantar onde o novo líder do partido deixou perceber que tinha chegado a hora de tentar ser o sucessor de Pedro Passos Coelho. Nuno Morais Sarmento, antigo ministro adjunto de Durão Barroso, com vasta experiência política, é visto dentro do partido como um "estratega político". "Pensa muito bem" é uma frase que se costuma ouvir sobre ele. Tem procurado sempre manter-se nos bastidores, onde costuma ajudar a construir vitórias. Durante o governo de Passos Coelho manteve-se distante e até uma voz crítica nos comentários que foi fazendo na comunicação social. Rui Rio contará com ele na direção para analisar e pensar a política a curto, médio e longo prazo. E bem precisa disso quando se aproximam vários atos eleitorais: regionais da Madeira, europeias e legislativas.

Castro Almeida
O homem da descentralização

Manuel Castro Almeida é um dos membros da nova direção do PSD que é mais próximo de Rui Rio. Foram deputados na mesma altura, durante os governos de Cavaco Silva, e partilham a experiência autárquica. Rio na Câmara do Porto, três mandatos sucessivos, Castro Almeida na de São João da Madeira, o mesmo número de mandatos. A experiência política do antigo deputado é vasta. Dentro do PSD foi vice-presidente de Manuela Ferreira Leite e no governo de Pedro Passos Coelho assumiu a pasta da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional, sob tutela de Miguel Poiares Maduro (de quem é amigo). E esta é uma das mais-valias com que Rio irá mesmo contar, tanto para a reforma da descentralização em que tanto se quer empenhar como na do futuro dos fundos comunitários para 2030. Castro Almeida também teve esta pasta nas mãos durante a sua passagem pelo executivo de coligação PSD/CDS.

David Justino
Quem sabe de educação de olhos fechados

Poderia dar-se o caso de apenas ter entrado para o núcleo duro da direção do PSD por ter sido o coordenador da moção de Rui Rio. Até porque essa tarefa revela por si a confiança que o novo líder tem em David Justino. Mas o novo vice-presidente social-democrata será sempre visto como o homem da Educação, pasta de que foi ministro no governo de Durão Barroso e que, mais tarde, geriu no Conselho Nacional de Educação. Pelo discurso de encerramento do congresso do PSD e pontapé de saída para a liderança do partido, Rui Rio deixou claro que uma das suas prioridades será esta área. Quem melhor do que David Justino para ser o conselheiro das propostas que vier a apresentar? Também domina as áreas das políticas sociais, ou não tivesse sido consultor de Cavaco Silva, nos dez anos em que esteve no Palácio de Belém.

Isabel Meirelles
Ajuda para pensar a UE

É uma das duas mulheres sociais-democratas - a outra é Elina Fraga (ver página 6) - que entraram para a direção do partido. Isabel Meirelles é uma especialista em assuntos europeus e certamente ajudará Rui Rio a pensar como dar resposta aos grandes desafios que se colocam a Portugal no quadro da União Europeia. Não se conhece muito do pensamento do novo presidente social-democrata sobre este assunto, já que poucas vezes abordou as matérias europeias nas suas intervenções. Isabel Meirelles poderá ajudar a dar consistência ao que o líder vier a defender neste campo.

Luís Montenegro
Na reserva à espera

O ex-líder parlamentar do PSD, de sorriso nos lábios e "sem hipocrisias", garantiu ao DN que vai mesmo "trabalhar" e "estar com a família" depois de renunciar ao mandato de deputado a 5 de abril, quando celebra 16 anos de atividade parlamentar. Mas foi ele próprio que não escondeu que vai andar por aí, talvez na comunicação social, a intervir politicamente. Por agora fica como um soldado na reserva à espera de se automobilizar para o dia em que sentir que tem hipóteses de disputar a liderança do partido. Se será em 2019, caso o partido tenha um mau resultado eleitoral, é uma incógnita que nem o próprio saberá responder. O que se sabe, e já não é pouco, é que não esteve com rodriguinhos e foi o único, mesmo o único, que se posicionou contra Rui Rio, a quem atacou em pleno congresso. Os abraços que recebeu depois, e foram muitos, deixam perceber que haverá quem no partido espere que tenha oportunidade para ir a jogo.

Passos Coelho
Um dia talvez Belém o motive

Palmas e mais palmas e palavras elogiosas em barda, mesmo dos que antes o haviam criticado. Foi assim que o congresso do PSD disse adeus ao líder cessante. Pedro Passos Coelho até teve direito a discurso de despedida e prometeu ser um "bom soldado" na difícil batalha pelo poder. E é provável que faça uma longa travessia do deserto, tal como fez quando se demitiu da direção de Marques Mendes e foi à vida profissional. Agora vai dar aulas, talvez faça palestras aqui e ali quando o partido lhe pedir, sem criar grande ruído para a direção. Mas terá sempre alguns fiéis no partido que cuidarão de manter viva a chama da sua liderança. Há quem já admita a hipótese de que, a longo prazo, poderá vir a sonhar com uma candidatura a Belém. Isto se o partido reconhecer nele o perfil para o cargo que não reconheceu a Marcelo Rebelo de Sousa...

Marco António Costa
General com muitas tropas

O homem-forte do Porto, a quem todos reconhecem que é muito próximo do aparelho laranja, sai agora de cena. Mas um general como ele não perde as tropas por isso. Marco António Costa acabou por ficar muito colado à liderança de Pedro Passos Coelho e ao governo que liderou, pelo que se afasta (ou seria afastado) de todos os cargos que desempenhava no partido e até no Parlamento. Passos chamou-o ao executivo para a difícil pasta da secretaria de Estado da Segurança Social em 2011, mas dois anos depois entendeu que ele era mais útil na sede do partido, na São Caetano à Lapa, onde foi promovido a vice-presidente com funções de coordenador da Comissão Política e porta-voz do partido. Ninguém no partido acredita que desbarate a influência que tem. E todos esperam que - se a liderança de Rio não correr bem- ele volte a ser uma peça central na construção de um caminho para um outro futuro líder.

Paulo Rangel
Discreto e envolvido neste PSD q.b.

Quis avançar para a corrida à liderança do PSD, teve tudo preparado para o fazer, mas recuou. Embora possa ter a ambição de um dia voltar a tentar chegar à presidência do partido - o que fez quando concorreu contra Passos Coelho e José Pedro Aguiar-Branco - , a verdade é que sai do congresso com uma postura muito discreta e envolvido q.b. na vida do partido. É número dois do Conselho Nacional e é muito provável que volte a ser o cabeça de lista do partido às eleições europeias, apesar de se ter comentado que Santana Lopes poderia protagonizar esse desafio eleitoral. Para já, não vai tanto andar por aqui mas mais por Estrasburgo e Bruxelas, onde continua a ser um dos eurodeputados mais influentes.

Miguel Pinto Luz
Tempo para esperar

Também chegou a equacionar ser candidato à liderança do partido nas últimas diretas, mas sofreu pressões para não avançar para não dividir mais o campo oposto a Rui Rio e já com Santana decidido a ir a jogo. Mas o vice-presidente da Câmara de Cascais e ex-presidente da distrital de Lisboa quis marcar o terreno para o futuro antes do congresso. Foi ele que publicamente exigiu ao novo líder que se demarcasse de entendimentos mais profundos com o PS e o governo de António Costa. Rui Rio desarmou logo no arranque do congresso essa ideia de que trabalhará para um Bloco Central. Pinto Luz acabou por não se posicionar como opositor de Rio, mas é óbvio que nunca será um homem das tropas do atual líder social-democrata. Miguel Pinto Luz tem tempo para esperar por uma outra oportunidade.

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