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Como o nome de Trump se tornou um grito de guerra numa guerra sem vencedor possível

Como o nome de Trump se tornou um grito de guerra numa guerra sem vencedor possível

Donald Trump concorreu, sem medo, numa plataforma que prometia colocar os norte-americanos no topo das suas prioridades. Foi também sem medo que fez essa política equivaler a uma de desvalorização da importância dos imigrantes, principalmente os mexicanos ou os que vêm de países muçulmanos. Nessa sua posição houve quem visse coragem. Houve quem a quisesse imitar. O nome Trump tornou-se um grito provocador, um palavra de ordem para os supremacistas. Como?

Não há outro que se lhe compare na História dos Estados Unidos. Também não estamos a falar de um país com nenhum milénio de História, mas os norte-americanos já elegeram 46 Presidentes, nenhum como Donald Trump. Há centenas de razões para isto, mas um artigo recente do “The New York Times” explora uma delas, e talvez uma das mais assustadoras.

Durante um ano, o diário norte-americano andou a recolher as notícias em que o nome de Trump aparecia associado a demonstrações públicas de intolerância racial. Os historiadores ouvidos pelo jornal não se lembram de nenhuma outra altura em que um nome de um Presidente tivesse carregado tanta ideologia. Só por ser proferido, por vezes nem sequer associado a uma mensagem mas apenas em sucessivos gritos “Trump! Trump! Trump!”, o nome do Presidente dos Estados Unidos parece ter-se tornado quase um grito de guerra, e em batalhas pouco nobres.

Os crimes de ódio nos Estados Unidos aumentaram nos últimos dois anos. Uma análise dos dados do FBI feita pelo Centro de Estudos dos Crimes de Ódio e Extremismo na Universidade da Califórnia mostra uma subida de 26% nos crimes de ódio nos últimos quatro meses de 2016, em relação ao ano anterior.

E em relação à população de origem muçulmana as coisas complicam-se ainda mais. Desde o fim de 2014, as queixas registadas por aquele centro duplicaram. O diretor, Brian Levin, disse ao "The New York Times" que em dois anos houve mais marchas pela supremacia branca do que nos últimos 20 anos. “Nunca vi nada como o que está a acontecer agora em 30 anos que levo de experiência neste campo”, disse o responsável.

A utilização provocatória do nome “Trump” inflama manifestações e, mais recentemente, recintos desportivos. Donald Trump não foi o homem mais zeloso com as palavras durante a campanha para a presidência, ofendendo mexicanos, muçulmanos e imigrantes ilegais e, já depois de eleito, não conseguiu condenar, inequivocamente, as marchas supremacistas que aconteceram em Charlottesville, onde uma mulher morreu vítima de um atropelamento propositado por parte de um dos manifestantes.

A Universidade de Salem, em Massachusetts, descobriu grafittis nos bancos nos seus campos de basebol com mensagens que ligam Trump a um protesto racista. “Trump #1 Apenas Brancos nos Estados Unidos”, era uma das frases. Um imigrante sem documentos no Michigan apresentou queixa na polícia depois de dois homens lhe terem agrafado ao estômago um papel que dizia “O Trump não gosta de ti”. Um empresário no aeroporto JFK em Nova Iorque foi acusado de “agressão e ameaças” a uma funcionária que usava jihab, por lhe dizer, entre outras coisas, “Trump agora está no comando e vai livrar-se de todos vocês”.

Em defesa do seu nome, a Casa Branca emitiu um comunicado no qual rejeita qualquer ligação de Trump a casos como estes. “O Presidente condena a violência, a discriminação e o ódio em todas as suas formas e considera criminoso que alguém utilize o seu nome ou o de outra figura política para transmitir ideias semelhantes”, escreveu, num email ao jornal norte-americano, o porta-voz da Casa Branca, Raj Shah.

Mas continua a acontecer. Há vários relatos de grupos de estudantes que utilizam com frequência o nome do Presidente para desestabilizarem as equipas de basebol originárias de bairros onde a concentração de negros ou latinos é maior. Um desses episódios foi registado na escola secundária de Canton, no Connecticut, quando a equipa da secundária de Hartford Classical Magnet foi recebida com o tal “Trump! Trump! Trump!”

A utilização do nome de Trump em eventos desportivos foi pela primeira vez registada pouco depois de ele ter anunciado a sua candidatura mas não ficou confinada às linhas brancas dos relvados das escolas. Passou também para as salas de aula. Um estudo do Southern Poverty Law Center, que também faz a monitorização de crimes de ódio, publicou um relatório ( O Efeito Trump) depois de analisar mais de 10 mil inquéritos feitos a outros quantos professores e há vários relatos assim: “Há miúdos a dizer: ‘O Trump ganhou, vais voltar para o México’”, escreveu um professor do Kansas. “Um miúdo negro foi impedido de entrar na sala por outros colegas que gritavam ‘Trump!Trump!Trump!’, escreveu um outro educador do Tennessee.

Como nota o historiador da presidência norte-americana, Michael Beschloss, ao “The New York Times”, “há momentos na história em que o ‘X’ de ‘Nixon’ aparecia transformado numa suástica, ou as caricaturas de Lyndon B. Johnson tinham um bigode à Hitler, mas isso eram atos de protesto contra as suas políticas belicistas na Guerra do Vietname. Agora não. A mensagem agora é ‘O Trump vem buscar-te e nós apoiamos isso’”

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