www.jn.ptJoão Gonçalves * - 18 dez. 00:09

Um regime brejeiro

Um regime brejeiro

O "espírito natalício" em curso foi abruptamente interrompido pelo episódio Raríssimas que, em dias, comprometeu meio regime. Começaram por apresentar a então presidente da instituição, em imagens de arquivo, com Maria Cavaco Silva e o chefe de Estado. A primeira "apadrinhou" a Casa dos Marcos, na Moita, e visitou-a amiúde também acompanhada pela rainha de Espanha. Marcelo foi, como tem ido, visitar mais uma IPSS que é esse o estatuto jurídico da associação. Nenhum deles teve ou tem poder executivo para supervisionar a IPSS, esta ou outra qualquer, através do exercício de tutela técnica ou financeira.

O uso alarve da imagem destas duas figuras públicas não impediu, porém, que a coisa evoluísse para onde devia evoluir em função do que fica escrito atrás: o Governo. Embaraçado, o ministro do Trabalho e da Segurança Social concedeu uma conferência de Imprensa improvável que apenas serviu para o enfiar até ao pescoço na trapalhada. E por duas vias: a de antigo vice-presidente da AG da associação e a de ministro com a dita tutela. Depois, com o desfiar do triste novelo, veio a saber-se que, enquanto tal, estava ciente de alegadas irregularidades na associação que lhe foram apresentadas, directamente, pela ex-presidente em meados deste ano. Não as dela, mas de outra. A senhora entretanto foi entrevistada e puxou lustro aos pergaminhos, chegando ao ponto de, na maior tranquilidade, sugerir ao país que lhe peça desculpa.

Pelo caminho ficaram uma vítima política "mortal", um secretário de Estado imprevidente, e a garantia da continuação do funcionamento de uma instituição tornada fundamental e, pelos vistos, única no acompanhamento de doentes específicos. Ora estes com certeza não têm culpa da promiscuidade que se insinua por detrás deste caso. É um caso isolado, de Polícia ou de outra natureza, ou o Estado estende a sua leviandade em matéria de controlo na aplicação de dinheiros públicos mais longe ainda? No mínimo, Vieira da Silva devia ter pedido a Costa para não despachar mais nada sobre a Raríssimas. Mas não. Costa aproveitou este lamentável episódio, longe de concluído, para reforçar a sua concepção "familiar" da política, trocando o vexado ajudante por uma camarada, mantendo a confiança política no antigo vice da AG da Raríssimas. Os hipócritas dos parceiros parlamentares não piam. A CGTP só com "provas" pensará na cabeça de Vieira. Citando Costa contentinho noutro contexto, isto talvez seja "particularmente saboroso". Para começar, é brejeiro.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* JURISTA

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