www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 18 dez. 07:00

Mais de 7500 empresas zombie ‘sugam’ competitividade à construção e serviços

Mais de 7500 empresas zombie ‘sugam’ competitividade à construção e serviços

10% das empresas destes setores não geram receitas para manter a atividade. Vivem à custa do crédito. Os PER arrastam problema, diz a AECOPS

Mais de 10% das empresas portuguesas de construção e serviços são empresas zombie, ou seja, “sem viabilidade económica” e “com muito baixa produtividade”, e que “minam o crescimento” da economia. Os dados são do estudo Empresas Zombie em Portugal – Os setores não transacionáveis a construção e dos serviços, da responsabilidade do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e Inovação. Em causa estão mais de 7500 empresas, que vão da construção e imobiliário, até ao comércio, reparação automóvel e serviços de distribuição de água e gestão de resíduos. Os dados dos últimos dois anos parecem indicar que há uma “inversão de tendência”, pós crise, mas Gabriel Osório de Barros, um dos autores do trabalho, acredita que “ainda é cedo para tirar ilações”.

O estudo, assinado, também, por Filipe Bento Caires e Dora Xarepe Pereira, destaca que a “facilidade de obtenção de crédito, aliada a um “longo período de juros muito baixos”, criou as condições propícias ao “aparecimento, fixação, e permanência” de empresas no mercado, que de outra forma “não seria possível”. Empresas que “sobrevivem à custa de crédito”, por não conseguirem gerar “receitas suficientes” para concretizarem as suas atividades, que pagam “salários acima da produtividade” do setor e que são “pouco inovadoras”. Em 2008 eram mais de 5100 (5,24% do total); em 2013, e apesar de uma redução no universo total de empresas, fruto das falências, a taxa tinha já subido para 12,48. Um total de 9500 zombies. Em 2015, o último ano analisado, eram 10,65%, ou seja, mais de 7500 empresas fantasma.

A presença destas empresas zombie pode, não só, ter “amplificado as consequências negativas da crise”, mas também estar a “retardar a retoma”. É que, não só criam “problemas de solvabilidade” no sistema bancário, como “diminuem a competitividade” do mercado em que operam, impedindo a entrada de empresas novas, “mais inovadoras e mais competitivas”.

Ricardo Pedrosa Gomes, presidente da AECOPS – Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas, concorda e admite, até, que o número de zombies possa ser “bem maior” . A situação deve-se, crê, ao mau uso do Processo Especial de Revitalização (PER) e à permissividade do sistema que permitia que as empresas sem viabilidade “saltassem de PER em PER, contaminando o mercado e fazendo concorrência desleal” às restantes construtoras.

Admite que, em tempo de crise, o PER teve a “pequena vantagem” de ir mantendo os postos de trabalho “enquanto as empresas vegetavam”, mas isso já não faz sentido “numa altura em que a dinâmica económica é uma realidade”. Aponta, no entanto, o dedo aos bancos, habitualmente os principais credores destas empresas fantasma, “por não terem capacidade ou vontade” de reconhecerem estas imparidades, forçando o seu desaparecimento.

O problema, diz Ricardo Pedrosa Gomes, é o “estigma” que a sobrevivência artificial destas empresas cria: “A construção é o setor com maior índice de crédito irrecuperável na economia portuguesa. Enquanto continuar a ser contaminado por estas empresas fantasmas, todas as restantes são estigmatizadas pela banca. No mínimo, pagam um prémio de risco. É uma concorrência desleal objetiva, que penaliza toda a gente quando a banca sabe que a maioria desses créditos são irrecuperáveis”.

A manutenção artificial destas empresas faz-se sentir também ao nível da concorrência nos concursos públicos, com uma política de esmagamento de preços em busca de obras. “É um ciclo vicioso, que se vai eternizando, com a cumplicidade dos donos de obra. E as restantes empresas, para evitar que se tornem zombies, acabam a entrar nessa espiral destrutiva. É tudo muito pernicioso induz comportamentos de dumping, no fim de contas”. A situação, diz, “está a melhorar”, fruto da dinâmica positiva da economia, mas está longe de ultrapassada.

SAIBA MAIS:

O que é
› Empresas zombie são empresas que estão no mercado há, pelo menos 10 anos, sem viabilidade económica e muito baixa produtividade, que sobrevivem à custa do crédito bancário por não conseguirem gerar receitas suficientes para financiarem a sua atividade normal, pagam salários acima acima da produtividade do seu setor e são pouco inovadoras.

Que impactos
› A existência destas empresas zombie, grande delas insolventes, cria problemas de solvabilidade no sistema bancário e reduz o volume de crédito disponível, reduz da competitividade do mercado onde operam, trava a entrada de empresas novas, dispostas a inovar e mais produtivas e competitivas, afetando o investimento e o emprego e minando o crescimento da economia no seu todo.

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