www.jn.ptPedro Ivo Carvalho - 22 nov. 00:02

Progressão rosas, senhor

Progressão rosas, senhor

Num dia o Governo dá, noutro o Governo tira. Tira que é como quem diz: explica pedagógica e patrioticamente que a árvore das patacas só frutifica nos livros; que apesar das boas intenções e do espírito de diálogo, há uma barreira de tijolos chamada realidade orçamental que não pode ser transposta. Porque o dinheiro não se reproduz à mesma velocidade das expectativas. Aberta a caixa de Pandora com a progressão na carreira dos professores, António Costa tenta, agora, mitigar o agigantamento de uma bola de neve que ele próprio precipitou pela montanha. Não era de esperar outra coisa: os militares, os oficiais de Justiça, enfim, qualquer classe profissional com mediano poder reivindicativo, quer beber do mesmo cálice adocicado dos docentes. O que, sendo legítimo, é impraticável. Mas isso o Governo já sabia. Na verdade, já o sabíamos todos. Quase todos, vá.

Costa, o "polícia bom", tem de fazer de Costa, o "polícia mau". Portugal - enfatizou numa declaração em que incorpora os dois estados de alma - não pode permitir que a história da bancarrota se repita. "Se queremos investir mais na qualidade da educação, na qualidade do sistema de saúde e nos serviços públicos não podemos consumir todos os recursos disponíveis com quem trabalha no Estado", ilustrou.

Sendo de uma razoabilidade a toda a prova, esta conclusão não é, apesar de tudo, consensual entre BE e PCP, cuja lista de exigências (na Função Pública) parece insaciável. Basta, aliás, ver o penhorado empenho com que ambos os partidos disputaram o campeonato do "quem é mais amigo dos professores", para se perceber o embalo que levam. Claro, e depois há Mário Nogueira. Tal como Jardel fazia entre os centrais, também ele resolve sempre que é chamado, independentemente do músculo negocial dos ministros da Educação e das Finanças do Governo de turno. O líder da Fenprof nunca perde.

O problema é que, nesta como em tantas outras batalhas que travamos pelo desenvolvimento, acabamos mergulhados na bipolaridade. Passar tão depressa de uma austeridade religiosa para um fulgor redistributivo pode ser muito popular, mas é muito pouco racional. Foi isso que o presidente da República tentou explicar aos atores políticos, rogando-lhes que baixem as expectativas. "É uma ilusão achar que podemos voltar ao tempo antes da crise", avisou Marcelo. "A ilusão de que é possível tudo para todos já não existe", reforçou Costa.

O Diabo não veio e isso deve encher-nos de alegria. Mas agradecer todos os dias aos santinhos não basta. Só conseguiremos manter o Belzebu do outro lado da porta se usarmos mais a cabeça e menos o coração. Se o fizermos entender que, no que a nós diz respeito, não vai progredir na carreira.

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