expresso.sapo.ptBernardo Ferrão - 21 nov. 19:04

Não é abstrato. O Governo está isolado na sua minoria

Não é abstrato. O Governo está isolado na sua minoria

Opinião de Bernardo Ferrão

Já repararam como o PS está cada vez mais sozinho em palco? Obrigado a assumir o papel principal e sem parceiros para dividir as deixas. O PS que vemos hoje no Governo, nesta frágil interpretação, é uma sombra do que era, ou do que prometeu ser. Na ânsia de agradar ao seu eleitorado serve-se do Estado, engordando-o em benefício, quase exclusivo, da Função Pública. Mas, ao mesmo tempo, sabe que não se põe um ponto final na austeridade e que o Estado não dá para tudo nem para todos. Centeno avisava há dias que vêm aí novos tempos, de juros mais altos. Costa só corrigiu o erro quando Marcelo falou ao país da “ilusão” de tudo isto.

Lembra-se da frase de Vítor Gaspar “não há dinheiro, qual é a parte desta frase que não entende”?

Voltemos ao palco. António Costa entretém-nos com mais um sapateado: agora é o Infarmed. Esperemos que a ideia não seja pôr-nos a olhar para o Porto para tentar disfarçar o que se passa no país. Na verdade, nada esconde o momento difícil que o Governo atravessa. Já nem as esquerdas aplaudem. Protestam. Tal como o Presidente e a direita, os parceiros também se sentaram na plateia dos críticos. Nos lugares da frente, os sindicatos dão volume à insatisfação. Querem mais. Vão sempre querer mais. Professores, polícias, militares, o país inteiro. Não pode haver filhos e enteados. O PS está desorientado, o partido que se afirmou pela antiausteridade é obrigado a reconhecer que prometeu ilusões “incomportáveis”. Desta vez (?) os socialistas geriram mal as expectativas. As esquerdas fugiram do palco. O Governo caiu na sua própria ratoeira.

Com BE e PCP a alinharem neste jogo duplo - aprovam orçamentos e políticas que contestam nas ruas -, o PS de António Costa ficou com o odioso. Deixou-se enredar no papel do mau da fita. É ele que tem de dizer que não. Ou melhor, primeiro diz não, depois talvez sim e finalmente reconhece o óbvio. Nunca como agora as pressões deixaram o Governo tão ziguezagueante. Se a estratégia já não era muita, a tática já só serve para remediar o prejuízo.

Do largo do Rato chegam sinais de desconforto com o atual estado de coisas. O PS que já fazia contas à maioria absoluta não caminha em boa forma para as legislativas. Os tempos que se seguem não serão fáceis. O PSD com nova liderança marcará mais a agenda e vai crescer nas sondagens. Mas o grande desgaste do Governo virá das esquerdas. Os parceiros tornaram-se a verdadeira oposição. E o Presidente Marcelo, como agora se viu, não deixará de intervir sempre que discordar das escolhas. António Costa sabe que o rumo dos acontecimentos e o fim do seu estado de graça são bem concretos. Costa é cada vez mais o primeiro-ministro de um Governo minoritário. E isso é tudo menos abstrato.

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