publico.pt - 18 out. 20:51
Música. Moacir Santos em violão e clarinete, a música de um mestre em Lisboa
Música. Moacir Santos em violão e clarinete, a música de um mestre em Lisboa
Anat Cohen e Marcello Gonçalves celebram, juntos, a obra do maestro brasileiro. Esta quinta-feira na Casa da América Latina, às 21h30.
Ela toca clarinete, ele violão de sete cordas. Ela é uma clarinetista e saxofonista israelo-americana que se tem distinguido no jazz e na música clássica, ele é um distinto violonista brasileiro, membro do Trio Madeira Brasil. Anat Cohen e Marcello Gonçalves apresentam, juntos, em Lisboa, o seu recente disco Outra Coisa, integralmente dedicado à obra do maestro e compositor brasileiro Moacir Santos (1926-2006). Será na Casa da América Latina, esta quinta-feira, às 21h30.
A vinda dos dois à Europa deveu-se, no entanto, a um convite para três: eles e a cantora Roberta Sá, explica Marcello ao PÚBLICO: “Isto nasceu de um convite da Filarmónica de Luxemburgo para nós três, eu, a Nat e Roberta como solista da orquestra. Isso aconteceu no dia 13 e dia 15 estivemos na Casa da Música do Porto, os três.” O concerto de Lisboa, porém, é diferente. “Será o lançamento desse disco, Outra Coisa, todo ele dedicado à obra de Moacir Santos. Eu sempre fui fã do Moacir, conheci-o através do Baden Powell [célebre violonista brasileiro, 1937-2000], que era aluno dele e na verdade foi o primeiro a gravar uma música do Moacir. Os afro-sambas, que Baden gravou com Vinicius [de Moraes], surgiram das aulas de composição que ele tinha com Moacir Santos. Que, além do Baden, tinha vários outros alunos que se tornaram também grandes compositores. Então, a presença do Moacir na música brasileira é muito forte.”
Com Zambujo, no BrasilA ideia de gravar este disco nasceu de uma descoberta. “A relação do Moacir com o violão ficou na minha cabeça, por conta do Baden Powell. Porque, ouvindo as gravações, eu nunca pensei como poderia soar um violão ali, porque a sonoridade é muito orquestral. Só lendo a partitura é que comecei a ver que tudo cabia. Me pareceu até que ele tinha escrito no violão, que aliás é uma coisa muito recorrente na música brasileira: 99 por cento da MPB foi escrita no violão, mesmo por pianistas como Tom Jobim.” O convite à clarinetista acabou por se tornar uma evidência. “Eu conheço a Anat Cohen desde o ano 2000, na primeira vez que ela foi ao Brasil, tornámo-nos grandes amigos e sempre sonhei fazer um disco com ela. Em geral, a combinação violão-clarinete é uma coisa que me agrada muito (há um disco muito importante na minha vida, do Paulo Moura com o Raphael Rabello, de clarinete e violão de sete cordas), e quando pensei no Moacir achei que era o momento ideal para fazer um trabalho assim, porque descobrira que ele podia soar bem no violão e porque o primeiro instrumento de trabalho do Moacir foi o clarinete.” Isso levou-o a convidá-la, de imediato. “Percebi que esse era o projecto perfeito para concretizar o meu sonho anterior de gravar com Anat. Ela é uma super-clarinetista, toca muito bem música clássica, jazz, música brasileira, colombiana, venezuelana, tem uma gama muito grande. E o Moacir pede isso, porque ele é 100 por cento brasileiro mas também 100 por cento americano, a música dele traduz várias culturas do continente. Ele gravou o primeiro disco no Brasil e depois foi para os EUA.”
O disco de Anat e Marcello foi lançado no Brasil em Novembro de 2016, a par do lançamento do disco Até Pensei Que Fosse Minha, de António Zambujo, com canções de Chico Buarque, disco onde Marcello e Anat participaram, ele no violão e na direcção musical, ela como instrumentista. “Em Abril de 2017, Outra Coisa foi lançado no resto do mundo. Agora, a gente está começando a fazer concertos fora, e vamos repetir no Brasil em Novembro, quando Zambujo faz mais uma tournée dele lá. Aliás, no dia do anúncio do Grammy estaremos todos juntos, no Brasil.”