expresso.sapo.ptexpresso.sapo.pt - 18 out. 22:20

Draghi fala de “falha” nas reformas laborais e diz que juros baixos são fundamentais

Draghi fala de “falha” nas reformas laborais e diz que juros baixos são fundamentais

O presidente do BCE falou esta quarta-feira de “um golpe nos trabalhadores” na aplicação das reformas estruturais. E, respondeu aos críticos, dizendo que a política monetária expansionista favorece as reformas, e não as desincentiva

O Banco Central Europeu (BCE) resolveu formular esta quarta-feira doutrina numa matéria que amiúde surge nos textos das suas decisões – as reformas chamadas de estruturais, uma constante recomendação, particularmente a reforma laboral. Estrutural quer dizer que as medidas - reformas - pretendem alterar substantivamente o quadro institucional e regulamentar de um tecido económico.

Mario Draghi, o presidente do BCE, disse esta quarta-feira em Frankfurt que a mãe de todas as reformas estruturais, a reforma laboral, onde foi concretizada nas economias periféricas do euro em pleno período de recessão, provocou a desvalorização dos salários, agravando a perda de poder de compra dos empregados. E, além disso, a flexibilidade introduzida no mercado laboral não foi acompanhada pela vertente da segurança e proteção do trabalhador. Os mais atingidos foram os jovens, sublinhou o italiano.

O banqueiro central quer que as reformas compatibilizem eficiência com igualdade e inclusão (duas palavras, também, em destaque na última Assembleia anual do Fundo Monetário Internacional que terminou no domingo).

Acrescentou que a manutenção de juros baixos pelo banco central - no caso do BCE estão em mínimos históricos - não desincentiva a prossecução de reformas estruturais, mas, pelo contrário, dá folga para se poderem implementar. Considerou que a política do BCE de resposta à crise criou uma "janela de oportunidade" para as reformas.

O golpe nos trabalhadores e a conservação dos interesses ‘rentistas’

Na conferência sobre “Reformas estruturais na zona do euro”, organizada pelo próprio BCE, o presidente da instituição acha, agora, que a reforma estrutural deveria ter vindo acompanhada de incentivos para se ter evitado “o golpe nos trabalhadores”. Referiu que, no passado, isso foi feito na Alemanha, Irlanda e Reino Unido, com vários leques de incentivos às empresas e com politicas ativas de emprego e de formação e educação.

E, como continua a defender a importância dessa reforma estrutural, acha que tem de se introduzir um outro ingrediente no seu ‘desenho’: “As futuras reformas devem ser precedidas de medidas que afetem os mercados de produto para que os ajustes salariais se transfiram por completo para os preços” e para o aumento do poder de compra e não para os lucros.

Acha, ainda, que deve haver reformas simultâneas na administração pública e no ambiente dos negócios (abertura de empresas, rapidez nos processos judiciais). Em suma, é preciso uma “mistura” de reformas.

Recorde-se que a reforma estrutural laboral foi uma das componentes dos pacotes de resgate aos periféricos do euro e das constantes recomendações aos outros periféricos. O presidente do BCE citou os casos de Espanha, Itália e Portugal. No seu entender, tais reformas permitiram reduzir o desemprego e torna-lo “mais sensível ao crescimento”. Mas, devido a grupos de interesse, que vivem de um modelo 'rentista', as reformas laborais não foram acompanhadas por reformas dos mercados de produtos.

Mas Draghi não mudou um milímetron a defesa que as economias mais flexíveis (no mercado do trabalho, mas também nos mercados dos produtos) no quadro de uma zona monetária são mais resilientes aos choques adversos, o que lhes permite, depois, ter retomas económicas mais rápidas. Segundo o italiano, países com “estruturas económicas sólidas” reduzem em 20% a probabilidade de uma recessão severa.

Juros baixos encorajam reformas

Draghi respondeu diretamente aos críticos que acham que a política monetária expansionista desincentiva as reformas estruturais por parte dos governos.

A investigação do BCE, disse, não encontra evidência convincente que juros mais altos levam a mais reformas. Pelo contrário, disse o presidente do BCE, “é o oposto que é mais provável ser verdade: taxas mais baixas tendem a promover reformas, pois conduzem a um ambiente macroeconómico melhor”. E sublinhou: “isto é especialmente útil para países sem espaço orçamental para apoiar a procura” (como são os periféricos).

NewsItem [
pubDate=2017-10-18 23:20:38.0
, url=http://expresso.sapo.pt/economia/2017-10-18-Draghi-fala-de-falha-nas-reformas-laborais-e-diz-que-juros-baixos-sao-fundamentais
, host=expresso.sapo.pt
, wordCount=601
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2017_10_18_1855455249_draghi-fala-de-falha-nas-reformas-laborais-e-diz-que-juros-baixos-sao-fundamentais
, topics=[economia]
, sections=[economia]
, score=0.000000]