expresso.sapo.ptexpresso.sapo.pt - 21 set. 10:05

Investigação de Robert Mueller está a apertar o cerco ao Presidente Trump

Investigação de Robert Mueller está a apertar o cerco ao Presidente Trump

Desde o início da semana houve três grandes revelações sobre a investigação do procurador especial ao alegado conluio entre a equipa de Trump e pessoas próximas do governo russo durante as presidenciais de 2016 e também às suspeitas de obstrução à Justiça que pendem sobre o atual líder dos EUA por ter despedido James Comey do FBI

A equipa de investigadores liderada por Robert Mueller que está encarregada de analisar as suspeitas de ingerência russa nas eleições norte-americanas terá pedido à Casa Branca que lhe forneça todos os documentos relacionados com os afazeres do Presidente Donald Trump desde a sua tomada de posse em janeiro, com especial foco no despedimento de James Comey da direção do FBI e no famigerado encontro que o filho mais velho do líder, Donald Trump Jr., manteve com uma advogada russa ligada ao Kremlin ainda durante a corrida presidencial — marcado após um intermediário ter garantido a Trump Jr. que Natalia Veselnitskaya queria "ajudar" o seu pai a ganhar as eleições "a pedido do governo russo".

Segundo notícias avançadas pelo "New York Times" e pelo "Washington Post" na quarta-feira à noite, a equipa do procurador especial já delineou 13 áreas de interesse na Casa Branca de Trump, incluindo o afastamento de Michael Flynn do Conselho de Segurança Nacional em fevereiro e conversas privadas de Trump sobre Comey, que ele afastou da liderança do FBI após tê-lo pressionado a abandonar uma investigação a Flynn por causa de contactos suspeitos com elementos do governo russo.

O diário nova-iorquino diz que Ty Cobb, um dos advogados do Presidente, já respondeu a Mueller, prometendo entregar-lhe todos os documentos que lhe foram exigidos até ao final desta semana. Contactado pelo jornal, o advogado disse em comunicado que a equipa de defesa de Trump não pode "tecer comentários sobre pedidos específicos nem sobre conversas mantidas com o conselheiro especial" — o ex-diretor do FBI que foi nomeado pelo Departamento de Justiça para liderar estes inquéritos após Comey ter sido afastado pelo Presidente.

Cobb é o advogado que, no passado domingo, teve o azar de estar sentado ao lado de um jornalista do NYT num restaurante próximo da Casa Branca quando decidiu discutir alto e bom som o conteúdo das investigações em curso, contribuindo sem saber para um "furo acidental" desse jornalista. Durante o almoço com John Dowd, outro dos advogados privados do Presidente, Cobb declarou, entre outras coisas, que Don McGahn, um dos conselheiros de Trump, tem alguns dos documentos exigidos por Mueller "fechados a cadeado num cofre".

Entre os papéis que Mueller quer consultar contam-se todos os emails e documentos da Casa Branca relacionados com Paul Manafort, que chefiou a campanha de Trump até agosto e que, avançou ontem o "Washington Post", se ofereceu para passar informações privilegiadas sobre a corrida eleitoral a um bilionário russo próximo do Kremlin duas semanas depois de Trump ter anunciado a sua intenção de se candidatar à presidência. No início da semana, a CNN e a CBS News já tinham avançado que Manafort foi alvo de escutas pelo FBI por causa das suas ligações suspeitas a Moscovo, com agentes federais a fazerem buscas à sua casa nos subúrbios de Washington DC em julho.

"Como se fosse a máfia"

Estas não foram as únicas revelações que surgiram desde o início da semana depois de meses de silêncio sobre a investigação que Mueller tem em curso a par de inquéritos das duas câmaras do Congresso ao alegado conluio entre a equipa do empresário Trump e operativos russos. Há dois dias, uma fonte avançou à NBC News que a Comissão de Serviços de Informação do Senado já encetou processos formais para forçar um dos advogados do Presidente Trump, Michael Cohen, a testemunhar publicamente no Congresso sobre as suspeitas de conluio com a Rússia.

Na terça-feira, Cohen foi interrogado à porta fechada por legisladores daquela comissão sob a promessa de não passar informações sensíveis à imprensa. Contudo, os investigadores do Congresso estão convencidos de que o advogado não cumpriu a sua parte do acordo, após vários excertos do seu testemunho privado terem sido publicados pela revista "Vanity Fair". Por causa disso, garantiram várias fontes próximas do inquérito, os legisladores planeiam intimá-lo formalmente para que preste declarações públicas sobre o assunto numa sessão a agendar.

Ontem, a "Newsweek" avançou que Mueller está a tratar o Presidente Trump como se fosse "um chefe da máfia", por estar a focar a sua investigação nas pessoas que lhe são próximas. "É esta a analogia feita por um ex-procurador federal e por um professor de Direito ao descreverem as táticas a que o conselheiro especial está a recorrer à medida que se imerge cada vez mais no alegado conluio da campanha de Trump com a Rússia no ano passado e também nas finanças do Presidente", escreveu a revista.

A notícia teve por base declarações desses dois especialistas ao NYT, entre eles Jimmy Gurulé, que ensina Direito na Universidade Notre Dame do Indiana. "Eles parecem estar a assumir uma postura mais agressiva do que seria de esperar num caso típico de crimes de colarinho branco", algo que, aponta Gurulé, "é mais consistente com investigações ao crime organizado".

Note-se ainda que o facto de Mueller querer deitar as mãos aos documentos relacionados com conversas privadas mantidas entre Trump e as pessoas que despediu, em particular Comey, parecem denotar que está empenhado em apurar se o Presidente pode ser formalmente acusado de obstrução à Justiça — algo que, a concretizar-se, poderá levar o Congresso a aprovar leis que lhe retirem imunidade para que possa ser julgado e potencialmente condenado por esse crime federal.

A par disto, a Reuters avançou na terça-feira que, no decurso destas investigações, Trump tem estado a pagar pelos serviços da sua equipa de advogados com fundos já recolhidos para a campanha presidencial de 2020 e com dinheiro que tem sido doado ao Comité Nacional Republicano (RNC) para a sua recandidatura. A confirmarem-se as informações, Trump é o primeiro Presidente da história moderna de financiamento de campanhas nos EUA a cobrir custas judiciais com esses fundos, isto apesar de se gabar de ter uma fortuna acumulada de 10 mil milhões de dólares. Face à notícia exclusiva da agência, a CNN apurou ontem que, só em agosto, o RNC gastou mais de 230 mil dólares para cobrir parte das despesas legais relacionadas com a investigação criminal em curso, para além de já ter desembolsado dinheiro para a defesa legal de Trump Jr.

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