expresso.sapo.pt - 22 ago. 16:00
Angola: “No dia 23 só vai dar quatro”
Angola: “No dia 23 só vai dar quatro”
Encerrado esta segunda-feira o período de campanha, os mais de nove milhões de angolanos inscritos para votar no novo governo até 2022 dispõem de 24 horas de reflexão. Acusações mútuas e promessas vão ecoar na escolha que os cidadãos vão fazer de um futuro que tem como ponto de partida a saída de cena de José Eduardo dos Santos
“O eleitor é quem decide sobre o futuro do país. Vamos aqui assumir o compromisso de que os militantes do MPLA e aqueles que consideram que o programa de Governo do MPLA é o melhor vão votar no número 4 e também mobilizar mais pessoas a fazerem o mesmo”, disse João Lourenço, o cabeça de lista e candidato à presidência de Angola, ao mar de gente que o aclamava no domingo no mercado dos Congoleses, em Luanda. Lourenço exibia um boletim de voto, onde o sorteio colocou o seu nome em quarto lugar, ao mesmo tempo que exibia o charme poupado para as últimas horas das atividades finais de campanha antes de, na manhã desta segunda-feira, discursar no comício de encerramento do MPLA.
Depois de ter reagido às sondagens que surgiram durante a campanha prevendo uma descida considerável do número de votos no partido que lidera, o candidato do MPLA tomou o entusiasmo dos eleitores demonstrado ao longo de um mês de manifestações e comícios de massas como a prova do engano daqueles estudos. “No dia 23 só vai dar quatro, só vai dar MPLA, só vai dar João Lourenço”, disse o candidato do partido no Governo, citado pelo “Jornal de Angola”.
Do país para a capitalDepois de milhares de quilómetros percorridos pelo país, a capital acolheu esta segunda-feira de manhã os comícios dos três principais partidos, MPLA, UNITA e CASA-CE.
Abel Chivukuvuku poderá sair líder não da terceira, mas da segunda maior força angolana, a CASA-CE
Manuel de Almeida / Lusa
“Ávidos de mudança” foi como Evaristo da Luz, da CASA-CE, descreveu ao Expresso os simpatizantes que receberam o líder Abel Chivikuvuku na campanha pelo país. Foram “milhares os que acorreram” ao comício de encerramento da coligação em Luanda sob o signo da “mudança pacífica, ordeira, com fraternidade” para “a qualidade de vida dos cidadãos, que “a CASA-CE tem vindo a defender desde 2012”, acrescentou Luz.
O líder da UNITA, Isaías Samakuva, chegou a Cazenga, Luanda, com uma mensagem clara: “Queremos dar a Angola um novo rumo, uma nova vida, para que seja possível colocar o país no rumo do desenvolvimento e de uma nova vida”, disse.
Samakuva garantiu aos simpatizantes da segunda força política angolana que “vão dar-se mal” aqueles que acham que “podem governar mantendo o povo no sofrimento”, como cita esta segunda-feira o “Novo Jornal Online”. Defendendo a mudança de regime como um “dever patriótico”, o líder e candidato do partido do “Galo Negro” criticou a governação de quatro d��cadas do MPLA e aproveitou para negar “os rumores lançados” pelo partido do Governo segundo os quais “a UNITA quer regressar à guerra” e se prepara “para despedir todos os funcionários públicos” em caso de vitória eleitoral.
Isaías Samakuva denunciou o MPLA e apelou ao voto na mudança liderada pela UNITA
Manuel de Almeida / Lusa
As palavras de Samakuva não foram transmitidas pela televisão pública TPA, nem pela privada Zimbo, que estiveram, ambas, a cobrir “em direto e durante várias horas uma passeata” realizada esta segunda-feira pelo candidato do MPLA ao Kilamba, a 30 quilómetros de Luanda.
A discrepância de tratamento dos meios de comunicação social aos vários partidos neste processo eleitoral foi assunto de campanha ao ponto de a UNITA, a CASA-CE, o PRS e a FNLA se terem juntado em conferência de imprensa a três dias das eleições para reclamar da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) “imperativamente uma solução” para uma série de questões. Além das relacionadas com o processo de acreditação, os delegados de listas, a deslocação de assembleias de voto, o circuito de transmissão de dados do escrutínio e o apuramento dos resultados eleitorais, o assunto principal levantado pelos quatro partidos opositores foi a passividade da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) face à falta de isenção da comunicação social pública, nomeadamente a TPA, nos seus noticiários. As quatro forças políticas ameaçavam recorrer a “medidas pertinentes, com vista a repor a legalidade, legitimidade, a lisura e a justeza do processo”, lê-se no “Novo Jornal Online”.
Banhos de multidão da oposição como este da CASA-CE foram muitas vezes ignorados pelos media públicos
Manuel de Almida / Lusa
A perceção da partidarização dos media públicos e as reações dos partidos em campanha foram subindo de tom ao longo do mês de campanha. A CASA-CE chegou a não permitir que a TPA e outros meios públicos cobrissem as suas atividades eleitorais. Pelo seu lado, a meio da campanha (14 de agosto) a UNITA declinou o convite da TPA para uma entrevista ao seu líder, Isaías Samakuva, argumentando com a parcialidade da estação a favor do MPLA na cobertura da campanha.
A estas eleições gerais de 23 de agosto concorrem o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).
A Comissão Nacional Eleitoral de Angola constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, algumas a serem instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda, estando 9.317.294 eleitores em condições de votar.