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'O Mundo Fantástico de Paula Rego': Uma outra Terra do Nunca

'O Mundo Fantástico de Paula Rego': Uma outra Terra do Nunca

Trocam-se os romances-inspiração na exposição mais democrática da pintora Paula Rego, patente no Centro Comercial Colombo: depois da série dedicada a Jane Eyre, mostram-se agora os quadros sobre Peter Pan. Para ver até 27 de setembro
'The Return', de Paula Rego

'The Return', de Paula Rego

Vistos à lupa, os contos de fadas sempre foram mais do que fábulas benignas com exemplo moral no remate final. Paula Rego sabe-o bem: a consagradíssima pintora criou um corpo de trabalho exalante de tensão e violências indizíveis, que desmentem a doçura das cenas do quotidiano ou dos contos populares. A sua releitura de Peter Pan, livro de infância que lhe foi oferecido pela ama, está distantíssima da versão “disneyana” do rapaz rebelde, criado em 1902 por J.M. Barrie, que alicia três irmãos de boas famílias (Wendy, John e Michael) a conhecerem a pandilha de Meninos Perdidos que não queriam crescer, na longínqua Terra do Nunca.

Nos 21 quadros desta série, agora patentes na nave branca da atarefada praça central do Centro Comercial Colombo, predominam azuis falsamente inocentes e sombras, desfasamentos de escala entre personagens, tons fantasmáticos, crueldade, servidões, ameaças. Vemos Wendy dominadora ou escravizada aos cuidados com os meninos, ora cosendo a sombra de Peter aos seus pés ora varrendo tristemente o esconderijo ora ainda cedendo à sedução ambígua de Capitão Gancho. Peter é uma silhueta indistinta e ilusória, os piratas e os Meninos igualam-se na carnificina, as sereias são monstros afogadores, o crocodilo é apenas um de muitos bichos devoradores. E Neverland? É uma paisagem pintada de alegorias e terrores: uma morte coroada, puxada numa carruagem infernal, rodeada por um cortejo submisso.

“Não acho que o livro de Peter Pan trate de assuntos encantadores. É como as cores bonitas das gravuras que servem para atrair o olhar do espectador. Na verdade, a história leva-nos a um mundo subterrâneo que tem um mar dentro de si, um Inferno para crianças.(...) Tem tudo a ver com magia e medo”, explicou a artista. O braço de ferro entre vida adulta e fantasia, declinado em gravuras, pinturas e litografias, inclui obras reconhecíveis como Learning to Fly, ou Peter in the Bird’s Nest. A série substitui 26 dos 59 quadros que integravam a exposição inicial com obras maiores pouco vistas como A Fada Azul e Pinóquio – os da série Jane Eyre. Facto notável? Que Paula Rego, a maior artista portuguesa, acabe assim por fazer não uma mas duas exposições neste espaço simultaneamente democrático e demonizado.

A iniciativa A Arte Chegou ao Colombo já apresentou Joana Vasconcelos, peças do Museu Nacional de Arte Antiga, Andy Warhol, Jen Lewin, Salvador Dali e Terry O'Neill. A mostra de Paula Rego conta com mais de 120 mil visitantes

'Captain Hook and The Lost Boy', de Paula Rego

'Captain Hook and The Lost Boy', de Paula Rego

Divulgacao

O Mundo Fantástico de Paula Rego > Centro Comercial Colombo > Av. Lusíada, Lisboa > T. 21 711 3600 > 22 ago-27 set, 10h-24h

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