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Catalunha. Cérebro e executante do atentado de Barcelona estão mortos

Catalunha. Cérebro e executante do atentado de Barcelona estão mortos

Polícia abateu a tiro o principal suspeito do ataque terrorista nas Ramblas e confirmou que o líder religioso que projetou os atentados na Catalunha está igualmente morto.

As investigações das autoridades catalãs ao duplo atentado da semana passada, em Barcelona e em Cambrils, conheceram ontem importantes desenvolvimentos, com a morte a tiro do principal suspeito dos atropelamentos nas Ramblas, numa localidade próxima da cidade condal, e com a confirmação, por parte dos Mossos d’Esquadra, de que o corpo do alegado cabecilha dos ataques se encontra entre aqueles que morreram em Alcanar, na passada quarta-feira, vítimas da explosão das bombas de fabrico artesanal ali armazenadas com o intuito de serem usadas em ataques ainda mais devastadores.

Ao longo da manhã desta segunda-feira a polícia catalã, a Guarda Civil espanhola e o Departamento do Interior da Generalitat da Catalunha utilizaram todos os meios à sua disposição para difundir a fotografia e a descrição de Younes Abouyaaqoub, o suposto condutor da carrinha branca que tirou a vida a 13 pessoas - incluindo duas portuguesas - e feriu mais de cem, após atropelar todos os que lhe apareceram pela frente, num percurso de cerca de 600 metros, numa das zonas mais turísticas de Barcelona. Por volta das 17h locais (menos uma hora em Portugal Continental) agentes da polícia abateram o marroquino de 22 anos, em Subirats.

Segundo o “La Vanguardia”, um homem “com as características” de Abouyaaqoub foi avistado por uma residente daquela localidade situada a cerca de 50 quilómetros da principal cidade da Catalunha, que depois de o interpelar informou os Mossos do seu paradeiro. A polícia catalã chegou rapidamente ao local, cercou o suspeito - que entretanto se escondera no meio de umas vinhas, aparentemente à espera de um cúmplice - e vendo que estava munido com um cinto de explosivos - falso, conforme se percebeu mais tarde - atirou a matar. 

A confirmação oficial do falecimento de Abouyaaqoub aconteceu uma hora depois, via Twitter, e duas horas depois, numa conferência de imprensa que juntou o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, o conselheiro do Interior, Joaquim Forn, e o comandante dos Mossos d’Esquadra, Josep Lluis Trapero. “Por volta das cinco da tarde os Mossos abateram Younes Abouyaaqoub, autor do atentado de Barcelona. Já informei o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, com quem tenho estado em contacto desde o primeiro momento”, anunciou Puigdemont.

Fuga a pé e nova vítima

A rejeição da possibilidade de o condutor do veículo que espalhou o terror entre a Praça da Catalunha e o teatro Liceu poder ser um dos cinco atacantes que foram abatidos pelas autoridades - depois de matarem mais uma pessoa em Cabrils (Tarragona) na madrugada de sexta -  ganhou força depois de analisadas diversas imagens de vídeo, captadas minutos depois do ataque nas Ramblas. Aquelas mostram o jovem identificado como Abouyaaqoub a afastar-se da carrinha utilizada para o atentado e, colocando uns óculos de sol na cara, a caminhar calmamente, pelo meio do caos, em direção ao mercado da Boqueria.

A reconstituição dos seus passos, levada a cabo pelas autoridades, sugere que percorreu durante cerca de uma hora, e em passo ligeiro, todo o percurso desde o mercado até à zona universitária, no distrito de Les Corts, onde se encontrou com aquela que viria a ser a 15ª vítima mortal dos atentados na Catalunha. Num parque de estacionamento daquela zona, Pau Perez, de 34 anos, foi barbaramente assassinado com um machete e o seu corpo colocado pelo terrorista no banco de trás do seu próprio veículo. 

Ao volante da viatura roubada, Abouyaaqoub procurou fugir da cidade, numa altura em que  se tinham passado cerca de 90 minutos desde o atropelamento das Ramblas e que, em virtude disso mesmo, estavam já montadas centenas de postos de vigilância nas principais saídas rodoviárias de Barcelona. Na iminência de ser mandado parar numa dessas operações de controlo, o jovem marroquino acelerou a fundo - atropelando e ferindo uma agente dos Mossos d’Esquadra - e passado o obstáculo abandonou o carro e corpo de Perez, perto de Sant Just Desvern. Depois de quatro dias fora dos radares, foi finalmente detetado em Subirats.

Radicalização suspeita

O dia de ontem trouxe igualmente novas informações acerca de uma alegada célula jihadista à qual pertenciam os atacantes das Ramblas e de Cambrils. Josep Lluís Trapero confirmou que o corpo de Abdelaki es Satty, o imã de Ripoll (Girona), está entre os cadáveres encontrados em Alcanar (Tarragona). Ganha cada vez mais força a tese de que o imã de Ripoll seria o cérebro desta célula terrorista.

A quantidade assustadora de bombas de gás butano encontradas na casa onde teve lugar a explosão e a proximidade temporal entre o acidente e o duplo atentado na Catalunha levaram as autoridades a colocar sobre a mesa a existência real de um plano, preparado ao pormenor, para ceifar ainda mais vidas na região de Barcelona. 

As primeiras pistas levaram a polícia até Ripoll, onde logo na sexta-feira detiveram quatro pessoas, e onde foi possível identificar os doze membros por trás do referido plano. Para além de Abouyaaqoub e dos quatro presos, outras sete pessoas faziam parte da conspiração. “Quatro [suspeitos] estão detidos e oito estão mortos. [Mas] não damos a operação como encerrada. A investigação continua”, adiantou, ainda assim, o comandante dos Mossos, na conferência de imprensa com Puigdemont e Forn. 

Na cabeça e no foco de Trapero e das equipas de investigação, está agora a missão de perceber como se formou o grupo e quais os seus alvos. 

Um familiar de um dos membros da célula falou ao “El País”, sob condição de anonimato, e revelou que a radicalização demorou algum tempo. “Há pelo menos um ano, o imã começou a reunir-se com alguns deles, fora da mesquita. Encontravam-se dentro de uma carrinha, durante horas, e se alguém passava por perto calavam-se e começavam a olhar para os telemóveis”, conta, explicando ainda que fora dali “tratavam-se como desconhecidos”. 

A partir do mês de junho, durante o Ramadão, o familiar revela então que os membros do grupo “perderam o medo de morrer”. “Começaram a comportar-se de maneira muito carinhosa com as suas mães e famílias e a passar muito tempo em casa. Penso que foi nessa altura que perceberam o que iriam fazer”, confessa.

Relativamente ao clérigo, os relatos são contraditórios. Hammou Minhaj, secretário da Comunidade Muçulmana de Ripoll, descreve Abdelaki es Satty como um “imã absolutamente normal”, que “ajudava os fiéis”, mesmo sendo um homem “solitário e discreto”. “Se soubéssemos que tinha antecedentes [terroristas] nunca o deixaríamos ser imã aqui”, garante.

Um outro familiar de um dos alegados membros da célula terrorista tem outra visão do líder religioso e diz que “algumas pessoas não confiavam nele” e tinham “suspeitas” sobre o seu papel como “grande recrutador” de jihadistas. Para além disso, não acredita que esteja realmente morto, como sugerem os Mossos d’Esquadra: “Esse homem partiu para a Síria”.

Enquanto as autoridades fazem por juntar todas as peças deste intrincado puzzle, sucedem-se as manifestações de homenagem às vítimas e de condenação dos terroristas. Ontem à tarde, membros de mais de 100 entidades e organizações muçulmanas da região de Barcelona juntaram-se na Praça da Catalunha para repudiar os ataques e mostrarem unidade contra o radicalismo islâmico violento.

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