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Ícaro

Ícaro

A nostalgia é o preço que pagamos pela liberdade do Verão, e a saudade é uma doença crónica

O Verão costuma ser tempo de balanço e reinício. Com as férias, o corpo abranda, o cérebro diminui a velocidade e o espírito autoriza-se a uma certa levitação, como tronco, cabeça e sorriso que boiam num oceano tranquilo durante os minutos que precedem o crepúsculo.
No resto do tempo de intervalo, fechamos os olhos e passeamos ao som de Satie por uma tela de Seurat. Do riso das cigarras ao aroma sussurrante das amendoeiras, tudo em . Perdemo-nos em pensamentos inúteis sobre a energia da juventude e a invencibilidade da adolescência, sob o peso das recordações de um tempo em que a morte não existia, só a noite seguinte. Face ao Verão, somos como Ícaro, filho de Dédalo, congeminador de labirintos, atraídos por voos infinitos no futuro, mas indefesos contra o calor escaldante do passado, que depressa queima a lucidez do mundo real. É difícil envelhecer.

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