www.publico.ptSónia Sapage - 21 ago. 07:30

Os partidos criam marcas políticas e algumas ganham vida própria

Os partidos criam marcas políticas e algumas ganham vida própria

Não esquecer que foi o PSD que ajudou a criar a marca Isaltino Morais e que foi uma parte do PSD que deu força a Rui Moreira. Já o PS alimentou o crescimento político de Narciso Miranda, por exemplo.

Nem todos os partidos portugueses nasceram a lutar contra a ditadura, pela liberdade e pela democracia. Aliás, quase todos foram fundados já em democracia, cada um com o seu ADN. Se um tem no topo das suas prioridades os direitos dos trabalhadores e outro é humanista e reformista, isso só os ajuda a criar uma marca e a reforçá-la. Porque os partidos também são marcas que podem ser construídas (ou destruídas, convém lembrá-lo). Não há automóveis PS ou CDS, mas há mensagens e ideias propagadas pelos partidos que conquistam a fidelidade dos seus eleitores.

Nos últimos anos, com o crescimento das candidaturas autárquicas independentes, ficou claro que, além de ideias, os partidos também constroem marcas pessoais. Isaltino Morais em Oeiras ou Narciso Miranda em Matosinhos serviram primeiro os respectivos partidos e depois ganharam vida própria e valor eleitoral que vai além do do PSD ou do PS. 

Prova disso é que a marca Isaltino teve continuidade mesmo quando o PSD de Marques Mendes deixou de lhe dar apoio e sobretudo depois de o ex-autarca ir preso e passar a pasta ao seu (então) herdeiro, Paulo Vistas - que entretanto se manteve à frente dos destinos de Oeiras e agora concorre às eleições com uma lista e um movimento próprio.

Se os autarcas não construíssem qualquer coisa à volta dos seus nomes e da sua obra, não teria havido tantos dinossauros a gerirem os destinos de municípios portugueses, alguns durante três décadas. Só em 2013, eram 160 os presidentes de câmaras que já não podiam recandidatar-se por terem atingido o limite de mandatos. Dos que insistiram em concorrer a autarquias próximas, seis foram eleitos. Os portugueses gostam de dinossauros e são sensíveis às marcas, incluindo as políticas. 

Não poderá dizer-se também que Marcelo Rebelo de Sousa é hoje um valor que vai além do próprio PSD? O caminho que fez nas televisões durante 15 anos, afastando-se dos discursos típicos dos políticos, não terá sido a construção da sua marca? A do professor-comentador primeiro, a do Presidente homnipresente e dos afectos, depois. E Paulo Portas, não será ele a verdadeira marca do CDS-PP? 

No capítulo das excepções, é sempre Rui Moreira que surge como um exemplo de um independente verdadeiro, nado e criado fora da política, sem quaisquer ligações ou amarras. "Sou candidato à presidência da câmara numa lista livre, livre e independente", disse o autarca do Porto na apresentação da sua candidatura, em 2013. Seria assim o exemplo de uma marca vencedora construída de raiz, sem ajudas de nenhum partido. 

Só que a verdade completa não é essa. Há quatro anos, quando Rui Moreira se lançou na corrida ao Porto, beneficiou da guerra que opôs duas facções locais do PSD. Luís Filipe Menezes vs. Rui Rio. Parte do PSD estava com o primeiro, a outra parte estava com Moreira. Não foi só isso que lhe deu a vitória, mas deu uma ajuda. 

É por esta razão que as eleições deste ano podem ser tão curiosas no Porto. Rui Moreira é hoje um produto político que se distanciou da sua origem e que perdeu o apoio do PS, negociado no início do mandato. Mas isso não significará nada se Manuel Pizarro não conseguir trazer à tona a marca PS, adormecida durante quatro anos no Porto, ou se Álvaro Almeida não for capaz de reunir o PSD de Menezes e o PSD de Rio. Nunca é fácil juntar duas marcas concorrentes, a não ser por motivos extraordinários. Alguém imagina uma campanha conjunta do Continente e do Pingo Doce?

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