www.publico.ptDavid Dinis - 21 ago. 07:30

O poder de CR Centeno

O poder de CR Centeno

O Orçamento volta, assim, de férias. Atrasado, com muitas ameaças de greves, com impaciência de ministros e pressão do Bloco e PCP. Mas a chave do cofre está ainda com Centeno. Se há conclusão a tirar da entrevista de Costa, essa parece ser a mais segura.

Nos bastidores da “geringonça” fala-se cada vez mais do poder que Mário Centeno tem. Não é para menos: o homem que veio do Banco de Portugal para a equipa de António Costa conseguiu a vitória mais importante destes quase dois anos de Governo: provou que também sabia apertar o cinto, acelerar a economia e devolver a confiança a uma solução governativa que não deixou nenhum investidor descansado. A surpresa foi tão grande que lhe chamaram “Ronaldo do Eurogrupo” - cortesia de Wolfgang Schauble, que é, ironia das ironias, o mais improvável dos aliados.

Mas, já tendo passado todo este tempo de Governo, não foi só Centeno que aprendeu a jogar as regras do jogo. “Os outros ministros também já aprenderam as regras do jogo”, dizia-me no outro dia um apoiante da ‘coligação’ parlamentar, contando o que um ministro teria dito numa reunião: “O Ronaldo pode ser o melhor do mundo, mas não ganha jogos sozinho”. Retrato ou metáfora, a frase mostra como também neste Governo tudo é como antes: o ministro das Finanças manda, mas o braço-de-ferro é permanente.

Centeno manda porque Costa quer. Não é por acaso que se anuncia que a saída da pasta da Administração Pública do Ministério das Finanças só se fará lá para 2019, quando vier uma nova legislatura. Até lá, é preciso tirar o rating do lixo e começar a baixar a dívida. 

É por isso que as negociações do próximo Orçamento do Estado se atrasam. Porque se é verdade que a economia está a crescer bastante mais do que o previsto, também é verdade que as necessidades se acumulam. Vejamos um exemplo, um dos pontos decisivos das negociações que agora vão arrancar: o que Centeno tem previsto para 2018 são 200 milhões de euros para começar a descongelar as carreiras do Estado. São centenas de carreiras, muitos milhares de trabalhadores em áreas sensíveis. Se o Governo atender a todos os pedidos, não lhe sobra nem para as canetas dos ministros. E António Costa já avisou: “É natural que as pessoas queiram já tudo. Não será possível já, nem tudo”.

Mas não é só este o dilema político do próximo Orçamento. É que se há muita coisa por fazer nas carreiras da Administração Pública, Costa não vai querer descurar o sector privado. É por isso que os outros 200 milhões disponíveis, para já, são para um alívio no IRS. Mas claro, também aqui 200 milhões é quase nada. E o que não se sente não traz virtude política. 

O Orçamento volta, assim, de férias. Atrasado, com muitas ameaças de greves, com impaciência de ministros e pressão do Bloco e PCP (maior com as autárquicas tão próximas). Mas a chave do cofre está ainda com Centeno. Se há conclusão a tirar da entrevista de Costa, essa parece ser a mais segura.

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