www.jn.ptRafael Barbosa * - 22 ago. 00:14

O populista do Pontal

O populista do Pontal

Portugal enfrenta aquilo que se chama um "inverno demográfico". A concretizarem-se as estimativas (mesmo as menos pessimistas), as consequências sociais e económicas serão devastadoras. Mais do que a redução da população (somos 10 milhões e passaríamos a ser menos de oito milhões em 2060), teremos um país de gente envelhecida e cada vez menos pessoas em idade ativa, com capacidade para trabalhar e pagar impostos. Faltará gente qualificada, como faltarão mãos para a construção civil ou o cuidado aos mais velhos. Como alertou, há poucos meses, o sociólogo João Teixeira, coordenador de um estudo sobre migrações e sustentabilidade demográfica, "à medida que o tempo passa, Portugal vai precisar cada vez mais de pessoas que não tem", o que fará com que o país seja cada vez mais "uma periferia pouco qualificada da Europa, com pouco crescimento".

Há várias formas de tentar inverter esta ameaça que, além de nos empobrecer, porá em causa a soberania e até a sobrevivência de Portugal enquanto nação independente (o que deveria fazer pensar os nossos nacionalistas de trazer por casa). A mais consensual é promover o aumento da taxa de natalidade. Acontece que é também a mais difícil, por muito que os políticos queiram convencer as mulheres portuguesas a ter mais do que um filho. Outra via é a das medidas para contrariar a emigração. Mas também esta é insuficiente. De acordo com o estudo citado, mesmo que, por magia, deixasse de haver gente a emigrar, seria necessário que chegassem 47 mil imigrantes por ano, ou seja, 2,2 milhões de pessoas até 2060.

Parece uma meta impossível (não temos a dimensão e a atratividade da Alemanha), mesmo com vontade política. E é precisamente a política que nos traz de regresso à atualidade e à suspeita de que estamos condenados a definhar. O líder do PSD, que foi primeiro-ministro e aspira a voltar a ser, ensaiou, no Pontal, uma deriva populista contra a imigração. Indigna-se Passos Coelho com a possibilidade de ao imigrante bastar uma promessa de contrato de trabalho para iniciar o processo de autorização de residência. Que interessa se isso também significa que o imigrante deixa de ser um pária e passa a estar debaixo do controlo do Estado? Mas indigna-se sobretudo com a impossibilidade de expulsar os imigrantes que cometam crimes graves contra a sociedade portuguesa, agitando o fantasma do terrorismo. Noutros tempos, e consultada a lei, dir-se-ia que o líder do PSD mentiu. Agora, dir-se-á que apresentou factos alternativos. E se outros prosperaram, em termos eleitorais, com essa estratégia, por que não Passos? Ainda não chega aos calcanhares de Le Pen, Farage ou Trump, mas para lá caminha.

* EDITOR-EXECUTIVO

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