www.publico.ptRita Pimenta - 20 ago. 11:11

Palavras, expressões e algumas irritações: queda

Palavras, expressões e algumas irritações: queda

Neste triste mês de Agosto, entre fogos, atentados, inundações e até uma marcha nacionalista e racista, a força da gravidade lembrou-nos a sua existência da pior maneira e em dois momentos que deveriam ser de festa no território nacional. O mais grave foi na Madeira

Objectivamente, uma “queda” é o “acto ou efeito de cair”. Assim regista o dicionário na primeira acepção para este nome feminino. E rapidamente envereda por sentidos figurados, como “decadência”, “ruína”, “perda de influência, de poder, de supremacia”. Mas queremos centrar-nos no sentido literal.

Neste triste mês de Agosto, entre fogos, atentados, inundações e até uma marcha nacionalista e racista, a força da gravidade lembrou-nos a sua existência da pior maneira e em dois momentos que deveriam ser de festa no território nacional.

“Queda do maior andor do mundo faz sete feridos em Lousada”, noticiou-se, dando-se conta de que os feridos eram homens que transportavam o andor em ombros, na procissão da romaria da Senhora da Aparecida, em Vilar do Torno. Tudo se passou a 14 de Agosto.

No dia seguinte, nova notícia, bem mais trágica, sobre uma outra “queda”, numa outra festa, também religiosa: “Uma árvore de grande porte caiu em cima de dezenas de pessoas no Largo da Fonte, nos jardins do centro da freguesia do Monte, pouco antes da saída da procissão em honra da padroeira da Madeira, a Senhora do Monte.”

Tratava-se de um carvalho centenário e provocou 13 mortos e mais de 50 feridos.

O que se seguiu, na assumpção de responsabilidades, foi bastante triste (e continua a sê-lo). “Desde terça-feira, a Câmara do Funchal e a paróquia da Senhora do Monte têm apresentado versões contraditórias sobre a posse do terreno onde se encontrava a árvore”, escreveu-se.

“Queda” também significa “descrédito”, “culpa”, “falta”. Depois de inquéritos, peritagens interrompidas, desconfiança e insensibilidade, a credibilidade nas instituições e governanças já não consegue contrariar a força da gravidade. Aproxima-se cada vez mais do chão.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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