Ana Sá Lopes - 20 ago. 09:29
Os dias tristes de um profeta falhado
Os dias tristes de um profeta falhado
É como se o PS tivesse conquistado todo o território: é mimado pela direita europeia e pela esquerda caseira
Falar de Pedro Passos Coelho começa a ser redundante. Por um lado, manda a bondade cristã que não se esteja sempre a bater em quem está no chão, até porque é o mais fácil. E a verdade é que Passos já não está no Governo e é sempre o Governo que deve ter o maior escrutínio. Mas também é verdade que esse escrutínio só pode ser bem feito com uma boa oposição. E ela, infelizmente, não existe.
O facto de todos os governos terem, no passado, contado com a oposição do Bloco de Esquerda e do PCP trazia um acréscimo de escrutínio a qualquer um deles. Hoje, como se sabe, isso não acontece. Sustentáculos do Governo Costa, PCP e Bloco de Esquerda só podem fazer críticas ‘aceitáveis’ dentro de princípios previamente estabelecidos. Não são oposição. Também não são Governo, mas são ‘a solução governativa’. E é assim que o Governo Costa tem a sorte de, ao contrário dos seus antecessores, ser contemplado com o beneplácito de dois partidos historicamente duros com os governos.
Era suposto que fosse, então, a direita a fazer uma oposição decente. Não acontece. O CDS tenta disfarçar, através da maquilhagem que a existência de uma nova liderança lhe dá. Mas nem o CDS é um partido de poder nem Assunção Cristas tem o talento que Paulo Portas tinha desde pequenino.
Quanto ao PSD, a situação é mais grave. Passos Coelho agarrou-se a uma ‘narrativa’ que saiu totalmente furada: a de que este Governo iria rebentar com a economia e as finanças, que não conseguiria atingir os compromissos europeus, que iria desagradar à Alemanha. Era difícil errar tanto: a economia cresceu, o défice baixou mais do que deveria, a taxa de desemprego diminuiu consistentemente, a Europa da austeridade bate palmas e Centeno até é falado para o Eurogrupo. . É o milagre das rosas.
É evidente que Passos ficou sem discurso. Só o desespero completo pode justificar que alguém que se diga social-democrata tenha entrado pelo discurso securitário. A ideia que existe dentro de algum PSD de que o atentado em Barcelona «vem dar razão a Passos» é um bocado obscena. Na realidade, no Pontal, Passos nem sequer soube interpretar a nova lei da imigração. Limitou-se a cavalgar uma onda populista que já deu resultado em alguns lugares. É pouco. É triste.