www.dinheirovivo.ptRicardo Reis - 20 ago. 17:27

Lista de tarefas

Lista de tarefas

Comece o ano não com uma lista de desejos e objetivos, mas antes com uma lista de tarefas.

Com o fim das férias de verão vêm os planos para o novo ano de trabalho. Quase todos nós sentimos alguma insatisfação por não termos conseguido fazer mais e melhor. Por isso, qualquer livraria moderna tem prateleiras com livros que prometem soluções para o tornar mais produtivo, bem-sucedido e rico.

Se já folheou esses livros, sabe que a maioria deles não tem respostas credíveis. Autores bem-intencionados pensam muito, ganham convicções e constroem argumentos mais ou menos sofisticados que as apoiem. O principal, ou mesmo o único argumento em favor das recomendações, é que “fazem sentido”. Mas, sem olhar para os dados, ou sem um método científico para comparar hipóteses com resultados, é impossível saber se há alguma verdade nas conclusões. A história da humanidade está repleta de princípios que “faziam sentido” na altura e que hoje sabemos que estavam estupidamente errados.

Qualquer esforço para recolher alguns dados é então de louvar. Quatro economistas, Clark, Gill, Prowse e Rush, fizeram isso com 4000 alunos de uma disciplina de primeiro ano da universidade, ensinada todos os semestres durante dois anos. Eles pediram a cada aluno que escrevesse um conjunto de objetivos para a disciplina. Dividindo os alunos em grupos, tirados à sorte, os do primeiro grupo deviam escrever os objetivos para as notas no curso, quer no final quer nos diferentes testes pelo caminho. Os alunos do segundo grupo escreviam antes objetivos em termos dos passos, ou tarefas, a cumprir. Estas tarefas consistiam num conjunto de exercícios online de preparação para os testes. Os investigadores tinham acesso a todos os dados dos alunos, às suas notas e aos exercícios online. Durante o semestre, enviavam mensagens automáticas a alguns alunos tirados a sorte, relembrando os objetivos que eles próprios tinham traçado.

Olhando para os dados destes alunos, a primeira conclusão é que traçar objetivos para os resultados finais tem um efeito modesto, quase nulo, sobre a nota final. Segundo, os alunos que recebiam avisos sobre os objetivos para as tarefas faziam mais exercícios online. Terceiro, e mais importante, estes alunos tinham melhores notas no final. O estudo permite separar estatisticamente o efeito numérico que os exercícios têm na nota. Os resultados são consistentes com todo o benefício de os objetivos por tarefas vir unicamente do facto de levar os alunos a fazer mais exercícios. É importante não exagerar o impacto ou a validade deste estudo. É uma população especial, formada por estudantes universitários que ainda estão a sair da adolescência e não têm hábitos de trabalho firmados. Além disso, estudar para uma disciplina é bem diferente da maioria das tarefas que o leitor tem pela frente. Mas, pelo menos, neste campo dominado por alquimia e sanguessugas, já começa a haver alguns factos.

Professor de Economia na London School of Economics

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