observador.ptobservador.pt - 25 jun. 11:36

Investir em inteligência artificial. 5 motivos para se manter afastado

Investir em inteligência artificial. 5 motivos para se manter afastado

A inteligência artificial traz vantagens económicas para muitos negócios e não apenas para um grupo de empresas. As comissões cobradas pelos gestores não justificam a aposta em fundos especializados.

Desde o último dia de março, quando Sebastian Thomas começou a gerir o primeiro fundo europeu de inteligência artificial, o Allianz Global Artificial Intelligence acumulou mais de 33 milhões de euros junto de investidores.

“O mercado da inteligência artificial está a crescer muito rapidamente, esperando-se que alcance um volume de 36,8 mil milhões de dólares em 2025, pelo que o fundo deverá beneficiar dos rápidos avanços numa ampla variedade de áreas, incluindo a análise da big data, a aprendizagem das máquinas, a condução autónoma e a internet das coisas”, lia-se no comunicado da sociedade gestora, a Allianz Global Investors, após o lançamento do produto financeiro em Portugal.

A inteligência artificial — que reúne as tecnologias capazes de compreender o mundo exterior, processar essa informação e atuar por meio de resposta, segundo a Allianz — está na moda entre os investidores. Em setembro de 2016, a sociedade norte-americana Global X já tinha lançado o Robotics & Artificial Intelligence ETF, um fundo cotado que investe em empresas que podem “beneficiar potencialmente da crescente adoção e utilização da robótica e da inteligência artificial”.

“Conscientes do impacto deste setor [da inteligência artificial], os nossos investidores têm vindo a procurar, cada vez mais, novas soluções de investimento nestas áreas. Este fundo [Allianz Global Artificial Intelligence] é a resposta a essa procura e mais uma oportunidade de investimento num setor em crescimento, com potencial de retorno a longo prazo”, indicou Carlos Almeida, diretor de investimento do Banco Best, que comercializa em exclusivo o fundo da Allianz em Portugal.

Apesar de o mundo estar “num ponto de inflexão para a inteligência artificial, em que este tipo de tecnologia começa a gerar diferenças significativas na forma como vivemos as nossas vidas”, como diz Sebastian Thomas, não deve aplicar o seu dinheiro num fundo de inteligência artificial. Saiba porquê.

A inteligência artificial não é o negócio principal das firmas

No início deste mês de junho, as ações da Tesla eram o principal ativo do Allianz Global Artificial Intelligence. O seu principal negócio: carros elétricos. O segundo ativo eram os títulos da Salesforce.com. O seu negócio: produtos para gerir as relações com clientes. A terceira aposta de Sebastian Thomas era a Micron Technologies, que faz semicondutores.

A premissa do fundo da Allianz clarifica que a inteligência artificial não tem de ser o foco operacional das empresas selecionadas. “O fundo investe um mínimo de 70% dos ativos em ações de empresas internacionais que têm pelo menos algumas operações ou relações na área da inteligência artificial”, lê-se nos documentos oficiais. Não poderia ser de outra maneira, porque não há empresas cotadas que se dediquem unicamente a desenvolver soluções de inteligência artificial.

É provável que já tenha inteligência artificial na sua carteira

Se o investidor investe de modo diversificado nas bolsas de valores, nomeadamente através de um fundo de investimento, é natural que esteja exposto a muitas das ações eleitas pelos gestores de fundos de inteligência artificial.

O fundo HSBC GIF Economic Scale Index Global Equity, que recomendámos para investir em 2017, tem títulos da Amazon.com, Facebook e Twitter que Sebastian Thomas também selecionou para o Allianz Global Artificial Intelligence. A carteira do iShares Core MSCI World ETF, que também recomendámos na mesma altura, inclui os dez principais títulos do Robotics & Artificial Intelligence ETF (encabeçados pela Intuitive Surgical, Keyence e ABB).

A elevada volatilidade dos fundos mais tecnológicos não deixa que os investidores de longo prazo lhes dediquem fatias grandes dos seus patrimónios. No entanto, como os principais ativos desses fundos já estão presentes em fundos mais genéricos, mesmo que em proporções reduzidas, o interesse de ganhar exposição à inteligência artificial através de um fundo especializado é reduzido.

É caro

Calcula-se que os custos do Allianz Global Artificial Intelligence — incluindo as comissões de gestão e de depósito — somem anualmente 2,10% do dinheiro investido. Isso é mais do que o dobro do HSBC GIF Economic Scale Index Global Equity, por exemplo. As despesas anuais do Robotics & Artificial Intelligence ETF chegam a 0,68%, mais do que o triplo dos custos do iShares Core MSCI World ETF.

É preciso que a expectativa de ganhos justifique a diferença de custos. Todavia, enquanto os retornos não são garantidos, as comissões são um elemento contratualizado no futuro dos investidores.

Ninguém garante retornos superiores

Mesmo que a inteligência artificial seja tão disruptiva como dizem os analistas mais otimistas, isso não se traduz obrigatoriamente em rentabilidades elevadas para os investidores dos fundos expostos a essa tecnologia.

Apesar de todos os avanços tecnológicos nas últimas duas décadas, as ações do setor das tecnologias de informação não foram as que mais renderam nas bolsas mundiais. À frente ficaram dois setores mais tradicionais: saúde e bens de consumo.

A Allianz reconhece o risco do desempenho do fundo não ser o que os investidores esperam. “O subdesempenho do tema de investimento é possível”, lê-se nos documentos oficiais.

A inteligência artificial está a massificar-se

Os negócios à volta da inteligência artificial não são monopólios. Qualquer pessoa pode entrar na corrida. Embora agora algumas empresas estejam na vanguarda do desenvolvimento da inteligência artificial, é natural que essa vantagem se dissipe com o tempo.

“Além da Siri [a assistente automática da Apple] e dos seus amigos [Cortana da Microsoft, Echo da Amazon], a inteligência artificial está presente em aplicações do dia a dia há muito tempo: as plataformas das redes sociais que filtram informação, a análise de vídeo na monitorização de segurança, as aplicações no setor da saúde (uma companhia indiana já faz 100 mil diagnósticos por dia com inteligência artificial), algoritmos que escrevem relatórios desportivos ou análises de negócios… até opiniões legais são produzidas usando inteligência artificial”, indica um estudo publicado por Hans-Joërg Naumer e Stefan Scheurer da Allianz Global Investors.

Tal com os telefones, os computadores e a Internet penetraram em quase todos setores de atividade, a inteligência artificial será uma ferramenta generalizada pelos vários ramos da economia. É mais provável que seja uma tecnologia vantajosa para todas as empresas do que beneficie apenas um grupo restrito.

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David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito. O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas.

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