sol.sapo.ptVítor Rainho - 24 jun. 14:21

Pedrógão Grande. Solidariedade, falsos delegados e ladrões de casas

Pedrógão Grande. Solidariedade, falsos delegados e ladrões de casas

Ninguém tem dúvidas de que os portugueses são um povo solidário, mas também não se pode negar que muitos se aproveitam da desgraça alheia para faturar. Sejam os políticos que fazem negócios de milhões ou os ‘Xico-mãozinhas’ que assaltam casas abandonadas.

Numa época em que o histerismo das redes sociais fala mais alto do que qualquer outra coisa, mas que acaba por determinar, muitas vezes, os temas em análise, foi particularmente comovente assistir à onda de solidariedade que se viveu com a tragédia de Pedrógão Grande. Pediu-se água e barras de cereais e os quartéis ficaram cheios; pediu-se roupa e brinquedos e muitos disseram presente à chamada. Com estas atitudes – nobres, diga-se – muito se escreveu sobre a generosidade dos portugueses. Que não faltamos quando somos chamados e que a sociedade civil age mais depressa do que o Estado. Já tinha sido assim aquando das mãos dadas por Timor – quem não foi para a rua dar as mãos ao parceiro do lado foi considerado mau português – ou para as diferentes manifestações de solidariedade para com os refugiados, entre muitas outras. É verdade que os portugueses, à semelhança de outros povos (veja-se o que aconteceu com o atentado de Manchester), gostam de ajudar e isso até pode estar no seu ADN, atendendo às dificuldades históricas de um povo pobre, mas honesto, como se usa dizer.

Acontece que o povo que corre para ajudar os bombeiros é feito da mesma massa que aqueles que se fazem passar por falsos funcionários da Segurança Social para extorquir dinheiro às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande e arredores. E é também da mesma massa dos que assaltam casas que foram abandonados por aqueles que fugiram aos fogos. Como é possível alguém aproveitar-se da desgraça alheia para ainda cavar um fosso maior na vida dessas pessoas? O ser humano é assim, não há nada a fazer. Em todo o lado há sempre bons e maus, a vida nunca foi feita só de uma das partes. Também por esse motivo não podemos afirmar que todos os cobardes que se escondem no anonimato das redes sociais são maus, até porque há muito boa gente que tem de ficar anónima para não sofrer retaliações de patrões ou amigos quando denunciam alguma coisa importante. Certo é que, felizmente, são uma minoria.

Em Pedrógão Grande não faltaram heróis anónimos que se disponibilizaram para ajudar os outros em troca de nada. Não o fizeram com a intenção de serem reconhecidos, fizeram-no de livre e espontânea vontade. E são atitudes dessas que nos fazem acreditar que o mundo não é só feito de gente que se aproveita da sua posição para faturar milhões, esquecendo que dessa forma pode levar alguns à morte. Os negócios dos fogos, seja transmissões ou combate às chamas, envolve muitos milhões e seria bom que pudéssemos saber tudo sobre essa matéria, à semelhança do que o Estado sabe sobre as nossas contas.

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