Rui Pereira - 24 jun. 01:30
O fogo e a grei
O fogo e a grei
Não serão os políticos a expressão dos defeitos e virtudes do povo?
Entusiasmado com a (justa) vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão, o Presidente da República disse que, "quando somos muito bons, somos os melhores dos melhores". Concordo, mas sei que Marcelo Rebelo de Sousa diria muito provavelmente o mesmo se fosse sueco ou angolano. E eu não deixaria de estar de acordo com ele, desde que fosse seu compatriota.
Todavia, o problema destas afirmações é a sua reversibilidade. E agora? Passámos a ser os piores dos piores por causa do incêndio florestal de Pedrógão Grande? Marcelo, apesar de imputar a António Costa um otimismo ilimitado e reclamar, para si próprio, o "realismo esclarecido", procura descortinar virtude na desgraça e refere a unidade e coesão em torno da tragédia.
Não há nenhum mal em sermos otimistas, contanto que o otimismo nos conduza à ação e não ao descanso à sombra da bananeira. Ao otimismo saudável chama-se determinação. É esse sentimento que perscrutamos naqueles rostos vincados dos portugueses representantes de todas as classes, retratados nos painéis de Nuno Gonçalves antes da "aventura" dos descobrimentos.
É necessário determinar as causas próximas e remotas da tragédia. No essencial, o diagnóstico está feito. Inverno demográfico, desertificação, desordenamento do território e abandono da agricultura. As reformas estruturais são de longo prazo, mas devemos começar quanto antes. Noutro plano, é de ponderar a intervenção da Força Aérea e o regresso dos governadores civis.
Temos de evitar que estes desafios sirvam de pretexto para negociatas, lutas partidárias mesquinhas e populismo irresponsável. Há titulares de cargos políticos incompetentes e corruptos, a par de outros que são modelos de clarividência e dedicação ao serviço público. Afinal, não serão os políticos a expressão concentrada dos defeitos e virtudes do povo que representam?
Todavia, o problema destas afirmações é a sua reversibilidade. E agora? Passámos a ser os piores dos piores por causa do incêndio florestal de Pedrógão Grande? Marcelo, apesar de imputar a António Costa um otimismo ilimitado e reclamar, para si próprio, o "realismo esclarecido", procura descortinar virtude na desgraça e refere a unidade e coesão em torno da tragédia.
Não há nenhum mal em sermos otimistas, contanto que o otimismo nos conduza à ação e não ao descanso à sombra da bananeira. Ao otimismo saudável chama-se determinação. É esse sentimento que perscrutamos naqueles rostos vincados dos portugueses representantes de todas as classes, retratados nos painéis de Nuno Gonçalves antes da "aventura" dos descobrimentos.
É necessário determinar as causas próximas e remotas da tragédia. No essencial, o diagnóstico está feito. Inverno demográfico, desertificação, desordenamento do território e abandono da agricultura. As reformas estruturais são de longo prazo, mas devemos começar quanto antes. Noutro plano, é de ponderar a intervenção da Força Aérea e o regresso dos governadores civis.
Temos de evitar que estes desafios sirvam de pretexto para negociatas, lutas partidárias mesquinhas e populismo irresponsável. Há titulares de cargos políticos incompetentes e corruptos, a par de outros que são modelos de clarividência e dedicação ao serviço público. Afinal, não serão os políticos a expressão concentrada dos defeitos e virtudes do povo que representam?